No dia 4 de fevereiro assinala-se o Dia Mundial da luta contra o Cancro do Pulmão e queríamos informar a população acerca dos fatores de risco e sintomas de alerta, de forma a prevenir e diagnosticar mais precocemente esta doença.
O cancro do pulmão é uma das neoplasias mais frequentes a nível mundial e está associado a uma elevada mortalidade, sendo atualmente a principal causa de morte oncológica em Portugal. Nos últimos anos, tem-se observado um aumento, ainda que discreto, da sua incidência, com um reflexo idêntico na mortalidade, que pode ser atribuído à evolução socio-económica e aumento da exposição a fatores de risco.
O tabaco continua a ser o principal fator de risco para o cancro do pulmão e está presente em cerca de 80 a 90% dos casos. Os fumadores têm uma probabilidade 15 a 30 vezes maior de desenvolver cancro do pulmão do que os não fumadores e apresentam um risco acrescido de desenvolver outras neoplasias, como o cancro do esófago, cavidade oral, faringe, laringe ou bexiga.
Apesar disso, cerca de 10 a 20% dos casos de cancro de pulmão ocorrem em não fumadores. Outros fatores de risco que se associam a esta doença são: a exposição laboral (partículas de amianto, silício, arsénio, crómio, níquel), poluição ambiental (produtos de combustão dos veículos a diesel, emissão de gases de máquinas industriais, exposição passiva ao fumo de tabaco e a inalação de fumos de lareiras e cozinhas), radiação em mineiros (rádon), predisposição genética (história familiar de cancro do pulmão) e determinadas doenças (doença pulmonar obstrutiva crónica, tuberculose pulmonar, fibrose pulmonar, HIV, entre outras).
A gravidade e elevada mortalidade atribuída ao cancro do pulmão está muito associada com a dificuldade e atraso no diagnóstico, em parte, devido ao facto de os sintomas serem pouco específicos e surgirem muitas vezes em fases avançadas da doença. Deste modo, é importante a identificação precoce dos sintomas de alarme, como a tosse persistente (associada ou não a expetoração raiada de sangue), agravamento ou modificação dos sintomas habituais num fumador, falta de ar, dor torácica, rouquidão, cansaço fácil e emagrecimento súbito sem causa aparente. A localização do tumor pode determinar os sintomas de apresentação, que podem evoluir silenciosamente durante longos meses.
A maioria dos casos de cancro do pulmão são diagnosticados em fases mais avançadas da doença, em que a sobrevivência aos 5 anos é de 5%, e apenas 15% dos casos são diagnosticados em estádios precoces, em que a sobrevivência aos 5 anos é superior a 50%.
A escolha do tratamento do cancro do pulmão é feita por um grupo multidisciplinar e vai depender de vários fatores, como a extensão da doença, do tipo histológico e estudo molecular, estado geral do doente e a presença de outras doenças. O tratamento convencional baseia-se na cirurgia, quimioterapia e radioterapia, no entanto, nos últimos anos, têm-se desenvolvido terapêuticas promissoras para o controlo da doença dirigidas a alvos específicos ou recorrendo a terapêuticas de estímulos de imunidade (imunoterapia), que permitiram personalizar o tratamento de cada doente e melhorar a sobrevivência e a qualidade de vida.
A dificuldade de um diagnóstico precoce e a existência de vários fatores de risco evitáveis, defere um papel essencial à prevenção primária com a implementação e execução de medidas que visem diminuir os principais fatores de risco do cancro do pulmão, nomeadamente as campanhas anti-tabágicas. Outra forma de diminuir o impacto e a mortalidade do cancro do pulmão na população é a implementação de exames de rastreio que permitam detetar atempadamente a doença. Apesar de existiram vários estudos a nível mundial, ainda não existe nenhum método de rastreio aprovado em Portugal. Contudo, as populações consideradas de risco (idade entre 55 e 79 anos, fumadores ou ex-grandes fumadores há menos de 15 anos) devem ter especial atenção ao aparecimento dos sintomas atrás referidos e procurar avaliação médica.
Autor: Lurdes Ferreira e Maria João Araújo
