Salientou, entretanto, que a sua paz é diferente da paz dos homens. Resulta da retidão, da justiça, da reconciliação, do respeito pela dignidade do outro e não do poder do mais forte. É fruto do amor e não do temor.
3. O cristão é chamado a ser construtor de paz. Para isso tem de saber eliminar as causas das guerras: o egoísmo, o orgulho, o desamor, o ódio, a mentira, a injustiça, a falta de perdão, o domínio do ter sobre o ser...
Tais causas nascem no coração dos homens. Pergunta Santiago: «De onde vêm as guerras e as lutas que há entre vós? Não vêm precisamente das vossas paixões que se servem dos vossos membros para fazer a guerra? Cobiçais, e nada tendes? Então, matais! Roeis-vos de inveja, e nada podeis conseguir? Então, lutais e guerriais-vos!»(Santiago 4, 1-2).
4. Para construirmos a paz e darmos paz necessitamos nós mesmos de viver em paz, o que nem sempre acontece. Lembro Miguel Torga («Diário» XVI. 1993, pag. 113):«não tenho paz, não dou paz, nem quero paz. Vivo desassossegado a desassossegar quem se aproxima de mim. E o pior é que as vítimas indefesas das minhas mortificações são aqueles que mais amo».
5. A construção da paz deve ser esforço de todos. Deve acontecer onde quer que as pessoas se encontrem: na família, nos meios de trabalho, na política, no desporto…
Escreve o Papa: «Todos podem colaborar para construir um mundo mais pacífico partindo do próprio coração e das relações em família, passando pela sociedade e o meio ambiente, até chegar às relações entre os povos e entre os Estados». «Aos governantes e a quantos têm responsabilidades políticas e sociais, aos pastores e aos animadores das comunidades eclesiais, bem como a todos os homens e mulheres de boa vontade, faço apelo para caminharmos, juntos, por estas três estradas: o diálogo entre as gerações, a educação e o trabalho. Com coragem e criatividade. Oxalá sejam cada vez mais numerosas as pessoas que, sem fazer rumor, com humildade e tenacidade, se tornam dia a dia artesãs de paz». 6. Ser construtor de paz pode exigir a reconciliação com quem se está desavindo ou em relação a quem se alimentam ressentimentos. Recordo S. Mateus: «Se, ao apresentares a tua oferta sobre o altar, aí te lembrares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa aí a tua oferta diante do altar e vai reconciliar-te primeiro com o teu irmão»(5, 23-24). Há que ser construtor de pontes e promotor de encontros.Autor: Silva Araújo