1. A Igreja, a que os batizados pertencemos, é constituída por uma multidão incontável de pessoas, unidas umas às outras, que se encontram em diversas situações: na de peregrinos, na de felicidade com Deus, na de purificação a caminho da felicidade com Deus.
Hoje, a Igreja peregrina presta homenagem à Igreja em estado de felicidade com Deus, a cujas pessoas damos o nome de Santos, de Bem-aventurados.
Amanhã manifestamos a nossa solidariedade para com a Igreja em estado de purificação, cujas pessoas designamos por Almas do Purgatório.
Hoje é dia de Todos os Santos; amanhã, dia de Fiéis Defuntos.
2. Ao longo do ano a liturgia da Igreja foi recordando alguns dos santos canonizados. No dia de hoje convida-nos a homenagear os que, embora não constem dos calendários litúrgicos nem dos hagiológios, gozam da visão beatifica. Todos aqueles cuja santidade não foi oficialmente reconhecida pela Igreja mas que nem por isso deixam de ser santos: os santos desconhecidos.
Homenageamos, também, os nossos familiares e amigos que estão com Deus.
3. Somos convidados, uma vez mais, a tomar consciência de que a santidade é um chamamento feito por Deus a todos. É um ideal ao alcance de cada um.
Santos são os que vivem de harmonia com a dignidade de filhos de Deus e seguem o caminho das Bem-Aventuranças: o desprendimento, a humildade, a pureza do coração, a misericórdia, a mansidão, o esforço em construir a paz. Os que, vivendo na graça de Deus, procuram fazer a Sua vontade. Os que, estando no mundo, não se orientam pelos critérios do mundo mas têm em vista os princípios e os valores do Evangelho.
Não têm necessidade de fazer coisas extraordinárias. As pessoas tanto se podem santificar a mudar toalhas de altar como a mudar fraldas de bebés ou de doentes; a descascar batatas como a manipular ouro. O importante é que procurem fazer extraordinariamente bem as coisas simples e vulgares de cada dia; que, vivendo na graça de Deus, por amor de Deus cumpram de modo extraordinário os deveres de cada dia.
Os santos mostram-nos, com o seu exemplo, ser possível levar o Evangelho para a vida e viver à maneira de Jesus.
4. Há santos do outro lado da vida e há santos nesta fase terrena que a vida tem. Recordo o que escreve S. Paulo no início de algumas das suas cartas: «A todos os santos que vivem na cidade de Filipos...» (Filipenses 1, 1); «Aos santos que estão em Éfeso...» (Efésios 1, 1); «Aos santos e fiéis irmãos em Cristo que habitam em Colossos...» (Colossenses 1, 2); «A todos vós prediletos de Deus que estais em Roma e que sois chamados santos...» (Romanos 1, 7).
Há apenas uma diferença: enquanto os santos do lado de lá são santos para sempre, os do lado de cá, se se descuidam, podem deixar de o ser. A santidade exige a fidelidade e a perseverança na prática do bem.
5.No culto prestado aos santos há exageros a evitar.
Conta-se (é uma estória, por certo) que uma velhinha, aflita por ter perdido o vale da reforma, rezou a Jesus para que pedisse a Santo António que fizesse o milagre de o encontrar.
É o inverso do que deve ser. Os santos não fazem milagres, mas Deus pode fazê-los por sua intercessão.
Há muito de superstição no culto que se presta a alguns santos, como o valor que se atribui a certas imagens e a certos formulários de orações de que as pessoas se sentem «obrigadas» a distribuir cópias ou a fazer publicidade nos jornais.
6. Em lugar de procurar ser santo às vezes prefere-se ser beato, no sentido pejorativo do termo. Prefere-se ser lamuriento, taciturno, cabisbaixo, resmungão, desmancha-prazeres. Dá-se, então, uma ideia errada do que é a santidade e do que é a prática religiosa.
É necessário mostrar haver santos que vestem à século XXI.
Cabe-nos a responsabilidade de mostrar serem os santos pessoas normais: que se riem, que se divertem, que convivem, que alegram o ambiente onde se encontram.
Autor: Silva Araújo