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Depois do silêncio... a Palavra

Expressamente resolvi suspender os meus artigos durante a campanha eleitoral.

Estou habituado a viver em países evoluídos, onde as eleições tornam-se um acontecimento normal, encarado com respeito, sem as lutas tauromáquicas do nosso arquétipo eleitoral.

Parabéns aos vencedores e que não esqueçam os mais desprotegidos e o bem comum das populações, sobretudo dos menos reivindicativos. Aos vencidos, calma e luta para as próximas.

É verdade. Noutros tempos atacava-se a Igreja e os padres de se intrometerem nas campanhas políticas.. Hoje, tão silenciosos, parece que nem elas, nem eles contam para nada. Tornou-se um facto banal e olhado com certa indiferença, menos para os candidatos, apaniguados e vencedores. A nossa democracia está em crise.

Por falar em Igreja, verifico que a comunicação social anda muito preocupada com o celibato sacerdotal. Querem ou desejam casar os padres, quando existem tantos casais divorciados, enjoados e homossexuais assumidos. Verifica-se uma tolerância que justifica tudo, e a tudo dá cobertura, mesmo divorciados/as maritando com jovens bem qualificadas/os nas universidades e em bons cursos, sem olhar a idade.

É o politicamente correcto, de que ninguém ousa falar. Não existe respeito nem por compromissos matrimoniais anteriormente assumidos, nem pelo compromisso celibatário na vida sacerdotal.

Um mundo em travesti, onde tudo parece normal, e o Papa Francisco, na sua bonomia, convida a ir às periferias e vê a Igreja numa situação de “Hospital de campanha”, tentando sanar as feridas, mas a impedir cancros, com novas metástases, sem olhar a medicinas, mas com a urgência da cura, através da misericórdia.

A uma Igreja autoritária, com o direito canónico obsoleto a excomungar, exorcizar, sucedeu agora uma de mais misercórdia, compreensão e de Bom Pastor em busca da ovelha perdida. Será esta ou a anterior, a verdadeira Igreja de Cristo?

Para mim é a mesma, todavia com perspetivas e pastoral diferente numa outra antropologia. Sim, os padres são pastores, pais indulgentes e compreensivos, amorosos, bondosos, mais samaritanos do que fariseus. No entanto terão de confundir a justiça com a caridade e o amor? O respeito, com a leviandade?

A ordem com a desordem? A virtude com o vício?O bem com o mal? A desolação, com a fraqueza da plebe? Realmente, assistimos a uma amálgama de “salada russa” sem fronteiras, baluartes e barreiras, dando força à fraqueza, aceitando mais a debilidade do que a coragem.

Qualquer instituição, como um governo tem a sua disciplina, as suas leis e normas, como contrafortes da fraqueza, e as suas decisões não se fazem democraticamente na rua, nem tudo pode ser posto em plebiscito com multidões, manifestando-se publicamente.

Neste tempo de Advento seria bom que todos os cristãos se refontalizassem na Bíblia, para compreenderem a Luz que despontou em Belém. Recordem os princípios em que foram moldados e educados. Reconheçam faltas e peçam perdão e misericórdia, em família, mas não troquemos a nuvem por Janus.

De facto, só com novos olhares, mais puros e abertos, seremos capazes de compreender as alturas e os ideais, num mundo que chafurda cada vez mais na lama, como Sísifo caiu com a pedra no chão.

Sem Ícaros e iluminados, vive-se de asas queimadas, com os sentimentos que levaram a cremar as nossas florestas, e não é capaz de construir as verdadeiras sinfonias e melodias de músicos como Palestrina, Mozart, Beethoven, Bach...Verdi, Fauré, Debussy etc. que nos nimbaram os ouvidos sempre alcandorados para as alturas, em ogivas de catedrais.

Hoje, limitados a “cantiguinhas”, cacofonias nas nossas igrejas, vive-se de vozes infantis como espectáculo, ou em surdina de serafins e angélicos enjoados, próximos dos ruídos, por vezes com sentimentos de bestas. É o nosso mundo.


Autor: Rosas de Assis
DM

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2 dezembro 2017