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Deixar-te, minha Mãe? Nunca!

1. Não sei como aguentas, minha Mãe. Não param de te bater. Não cessam de te ferir. Não sei como resistes. A bem dizer, nem percebo como (ainda) existes. 2. Já te fixaram prazos de validade. E tu, minha Mãe? Aparentemente, calas-te. Mas não foges. Estás onde sempre estiveste: ou seja, no meio de nós. Este é mais um daqueles momentos em que pareces derrapar. Há membros do teu corpo que não desistem de te provocar lesões piores que tumores. 3. Como aceitas expor-te a tanta devassa na praça pública? É que ninguém diz que alguns dos teus membros estão doentes. O que cada vez mais dizem é que és tu, minha Mãe, que já não tens cura. Nem remédio. 4. Dão-te como perdida por não quereres perder ninguém. Atiram-te à cara que encobres e que és incapaz de separar o «trigo» do «joio» (cf. Mt 13, 24-30). Mas não. Tu não encobres o que não tem cobertura possível. Estás sempre a instar connosco para que mudemos e não voltemos a pecar (cf. Jo 8, 11). 5. Alguém é culpado de lhe sobrevir um cancro? Então, como admitir que te apontem a culpa dos males que te molestam? Quem sofre como tu sofres com tanta monstruosidade? E quem faz o que tu fazes para combater as chagas que te gangrenam? 6. Não sei, minha Mãe, como permaneces calada quando calam tanta coisa boa que tens para apresentar. Sim, porque, és tu, minha Mãe, que tens levado o Evangelho da paz e da esperança a tantos deserdados deste mundo. 7. És tu, minha Mãe, que levas o pão, a roupa e a educação a tantos que muitos nem sonham que existam. És tu, minha Mãe, que queres muitos daqueles que mais ninguém quer. 8. Não se fala disto porquê? Só insistem nas tuas sombras porquê? Pois fica a saber, minha Mãe, que, se alguma vez tivesse pensado em sair (o que nunca aconteceu), não era nesta hora que te iria deixar. 9. Mesmo aqueles que fazem doer (a «eclesiopatia» é uma das enfermidades mais dolorosas) não impedem que o meu amor por ti esteja sempre a crescer. Mãe Igreja, quero-te mais do que nunca. Com as tuas debilidades e misérias, é contigo que quero ficar. 10. Deste-me o que nunca ninguém me deu: Cristo, Maria, Deus, os santos, a possibilidade de ser padre e o conhecimento de pessoas maravilhosas. Que mais poderia querer? É por isso, Mãe Igreja, que é nos teus braços que quero morrer!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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14 maio 2019