No meio do turbilhão de informação que todos os dias circula sobre este “vírus de coroa”, há muita coisa certa, muita coisa errada, e um sem-fim de supostos factos mais ou menos duvidosos que ora são confirmados ora são refutados. Não sendo eu especialista em saúde pública, irei abster-me de recomendações, deixando essa tarefa para quem realmente sabe do assunto. Em vez disso, vou partilhar uma experiência pessoal, relacionada com a nossa memória coletiva, e duas notícias que li esta semana e que – essas sim – têm a ver com bicicletas.
Quando eu era criança, havia uma tradição na minha aldeia, como provavelmente em muitas outras aldeias do Minho, de acender ali por alturas de janeiro umas fogueiras a São Sebastião, com ramos de loureiro cujas folhas estalavam muito ao arder. Ao mesmo tempo que ardia o loureiro, gritava-se, por entre o fumo, “Viva o Mártir São Sebastião, que nos livre da fome, da peste e da guerra!”. Lembro-me particularmente da estranheza que me causou por essa altura aquela palavra, “peste”, cujo significado eu ainda não conhecia. Os anos e as décadas foram passando, e veio-me à memória estes dias essa imagem e essas palavras, por causa do momento que vivemos – temos agora a tal peste à porta, e estamos nós mesmos a aprender a lidar com ela, numa corrida contra o tempo.
Quanto às notícias de que falava, a primeira delas dava conta de um aumento considerável no uso da bicicleta em Nova Iorque e noutras cidades americanas como alternativa ao carro, ao metro e a outros transportes, na sequência de recomendações das autoridades locais. Face aos perigos de contágio associados aos espaços fechados e sobrecarregados de pessoas, a bicicleta foi proposta e prontamente acolhida como uma alternativa por milhares de pessoas.
A outra era relativa à Dinamarca, onde as autoridades também recomendaram há dias um conjunto de alterações aos hábitos de mobilidade, também por causa do risco de contágio de COVID-19. Entre várias outras orientações, foram aconselhadas as viagens a pé ou de bicicleta como alternativas mais favoráveis para distâncias curtas.
A bicicleta parece ser, pois, uma ferramenta útil também em momentos difíceis como este que atravessamos.
A finalizar, para além de uma palavra de ânimo (nós vamos ultrapassar isto, e apesar da distância física que o vírus nos impõe, estamos mais juntos do que nunca!), gostaria apenas de lembrar e sublinhar que é fundamental acompanhar diariamente e seguir as indicações das autoridades e profissionais de saúde sobre como proceder em cada momento.
Autor: Victor Domingos
De bicicleta contra o Coronavírus
DM
21 março 2020