twitter

Datas históricas

As comemorações do 25 de Abril geraram forte controvérsia. Sem tomar posição neste diferendo, revisitamos a história de Portugal, sem recorrermos a paixões ou segundas intenções. O 25 de Abril de 1974 é uma data histórica, porque determinou o fim de um regime e o princípio de outro, mas não é caso único de mudança de regimes no nossa história: em 5 de Outubro de 1910 derrubou-se o regime monárquico-constitucional e implantou-se o regime republicano-democrático. Lembra-nos a história pátria que em 1640, 40 fidalgos portugueses acabaram com 60 anos de domínio espanhol e restauraram a soberania portuguesa. Ainda dentro desta perspetiva de mudanças de regime, encontramos, em 1385, D. João I e D. Nuno Álvares Pereira a defenderem, na localidade de Aljubarrota, a independência de Portugal contra o domínio de Espanha. Mas a grande mudança do regime dá-se com D. Afonso Henriques que faz de si rei e dum condado uma nação. 1143 é, certamente, a rainha das datas de mudança de um regime e a mais determinante que qualquer uma das citadas. Mas se quisermos celebrar datas históricas que mudaram Portugal, já não quanto a regimes políticos, mas quanto a imagem de país, teremos de nos referir aos descobrimentos. Em 1498 Vasco da Gama chega por mar à Índia, inaugurando aquilo que hoje chamamos de globalização. Fez do mundo grande um mundo mais pequeno. Dois anos depois , em 1500, Pedro Álvares Cabral faz o achamento das Terras de Santa Maria ou Vera Cruz , mais tarde Brasil, levando ao continente americano a civilização europeia, fazendo do atlântico uma auto-estrada entre a Europa e as Américas; aproximou dois continentes. Não queremos fazer deste escrito uma lembrança histórica, mas queremos certamente dizer e afirmar que o 25 de Abril de 1974 não é caso único na história de Portugal. Outras datas e outros feitos fizeram dos portugueses heróis e santos, mártires e arautos que estão ignorados e arredados das comemorações; já pouco se conta delas, pelo menos nos seus aspetos heróicos. Repousam na história. Os militares de Abril, a quem já se prestou inúmeras vezes homenagens de agradecimento, têm de se convencer que, como viram, não estão sós na história das mudanças de regimes em Portugal. Fizeram muito, mas não fizeram mais do que já outros tinham feito. Os agradecimentos têm o seu tempo de eficácia. Não os podemos eternizar; em pouco tornam-se lugares comuns e perdem brilho e eficácia. A história se encarregará dos vos eternizar, não precisam de vénias constantes dos contemporâneos. Para alguns “revolucionários de Abril”, parecerá que são sempre poucas as cortesias e as palavras de circunstância. Ora não pode ser assim; a banalização vem do abuso do uso. Estamos agradecidos para sempre ao 25 de Abril, mas quantas vezes é preciso dizer obrigado? Não nos obriguem a pensar que a dívida está saldada ao transformarem a devoção em obrigação institucional. Dívida saldada credor esquecido. Meu amigo, para de me agradecer, quando não sou eu quem fica em dívida contigo.


Autor: Paulo Fafe
DM

DM

27 abril 2020