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Corpo de Deus

1. A igreja Católica celebra hoje a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, vulgarmente conhecida por festa do Corpo de Deus. É, para os crentes, uma oportunidade de manifestarem a devoção à Santíssima Eucaristia.   2. De harmonia com a fé que professamos, na consagração da Missa acontece a transubstanciação: o pão e o vinho convertem-se no corpo e no sangue do Senhor. Debaixo das espécies do pão e do vinho o que está presente no altar é o corpo e o sangue de Jesus. É um mistério admirável da nossa fé. Porque se trata de um mistério, não sei explicar como isso acontece. Mas acredito. E ao longo dos séculos diversos fenómenos extraordinários têm acontecido a comprovar que assim é. Muitos desses fenómenos são relatados por escrito. Recordo, por exemplo, o livro de Abbé Jean Ladame, «Prodiges Eucharistiques», editado em Lyon em 1981. Ao longo de duas centenas e meia de páginas são narrados diversos milagres eucarísticos, a partir do século VIII. Um deles é o Santo Milagre de Santarém, ocorrido em 1247. É humanamente inexplicável o que se passou com a Beata Alexandrina (Alexandrina de Balasar) que desde 27 de março de 1942 até à morte, em 13 de outubro de 1955, viveu em completo jejum. O único alimento que tomava era, diariamente, a Sagrada Comunhão. Este caso foi rigorosamente examinado por diversos médicos, quer em casa da doente quer durante um internamento na Casa do Refúgio de Paralisia Infantil da Foz do Douro, entre 10 de junho e 20 de julho, onde esteve durante quarenta dias e quarenta noites, sob uma vigilância apertadíssima, de noite e de dia. Se a hóstia consagrada fosse um bocadinho de pão, como se explica que, durante treze anos e sete meses, tivesse alimentado a Beata Alexandrina?   3. A devoção para com a Santíssima Eucaristia manifesta-se de diversos modos. Um deles é a participação, consciente, na Missa, a que às vezes se falta sem motivos que o justifiquem. Terminada a Missa, as hóstias consagradas que não foram consumidas pelos comungantes guardam-se no sacrário. Por isso, a primeira preocupação de quem entra numa igreja deve consistir em saber onde se encontra o sacrário com o Santíssimo Sacramento, o que é sinalizado por uma luz acesa. Aí se deve adorar o Senhor. E ao passar diante dele, quem pode deve ajoelhar com o joelho direito, colocando-o junto do calcanhar do pé esquerdo. Quem não pode, fará uma inclinação profunda. A Beata Alexandrina, a quem fiz referência, retida no leito ia em pensamento aos sacrários das igrejas que conhecia, adorando em pensamento o Senhor e fazendo o que se chama uma comunhão espiritual. Há igrejas onde, durante algum tempo, se expõe o Santíssimo Sacramento, a fim de que os crentes o possam adorar. Um tempo solene de adoração acontece durante o Sagrado Lausperene. A procissão de hoje à tarde é uma forma de manifestar essa devoção. E uma oportunidade de, publicamente, manifestarmos a nossa fé na Santíssima Eucaristia.   4. Normalmente escolhe-se este período para as crianças, devidamente preparadas, fazerem a primeira comunhão. Pena que, às vezes, adultos pretendam fazer dela um espetáculo e não um encontro, tanto quanto possível consciente, dos meninos com Jesus Sacramentado. O Jesus escondido, como dizia o vidente de Fátima Francisco. Pena também que, para alguns meninos, essa seja a primeira e a última ou uma das últimas comunhões. Quem se preocupou com o espetáculo esquece-se, depois, de acompanhar à Missa dominical os meninos que comungaram.   5. A devoção ao Santíssimo Sacramento deve contribuir para que nos amemos cada vez mais. Não podemos estar em comunhão com Deus se vivemos de costas voltadas uns para os outros. A Santíssima Eucaristia é uma extraordinária manifestação de amor de Jesus por nós. Faz-se nosso alimento. Dá-se-nos para que cada um de nós se dê também aos outros, procurando que a ninguém falte o necessário para poder viver com dignidade. A devoção à Santíssima Eucaristia deve levar à prática de uma efetiva solidariedade. Não é verdadeira comunidade cristã a que tolera no seu seio a existência de pessoas sem a possibilidade de viverem de harmonia com a condição de seres humanos e de filhos de Deus.
Autor: Silva Araújo
DM

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31 maio 2018