Para se ganhar, não é obrigatório agredir colegas de profissão ou os árbitros. Para se ser adepto não é necessário ser bárbaro, insultar e agredir. Mas se, de alguma forma, isso acontece, a punição deve ser severa e exemplar.
Hoje, vivemos numa sociedade em grande crise, não só económica mas, e, acima de tudo, de valores. O que mais entristece é o descomprometimento com a punição de alguns atos. Um jogadorzito agride o árbitro e passa a vítima (amnésia). Outro, agride um adversário a murro, e prolonga-se o processo, com a entrada de mais uns tantos recursos, passíveis de adiar sine die a sentença.
Uns miúdos cretinos rebentam um hotel, “todos” são punidos, ninguém é realmente culpado, mas há com certeza, quem ainda diga: “afinal … coitadinhos”. Um grupo de indivíduos, pertencentes a uma claque, entoam cânticos de uma baixeza intelectual e imbecilidade desmedida e o clube limita-se a demarcar-se… Qualquer forma de violência, de desrespeito, de utilização de linguagem bélica, de negociatas, devem ser severamente punidos.
Assumo, estou na linha da frente para denunciar e exigir punição severa a um qualquer imbecil que seja responsável por determinados tipos de atos, selvagens, de severo desrespeito, violência ou provocações verbais ou físicas, que cometa no seio do melhor palco da vida… o desporto. Com o 25 de Abril de 1974 ganhámos a liberdade, a força da expressão e o poder da opinião. Mas quanto mais liberdade, mais responsabilidade.
A falta de disciplina no desporto, na escola, na estrada, na rua, nos transportes, é um facto, mas o grande equívoco é pensar-se que só os jovens padecem deste mal. Se analisarmos, friamente, os comportamentos e o discurso de alguns adultos/pais/dirigentes, já se percebe que a “crise de valores desta geração” tem uma origem…
É comum na nossa cultura valorizar: quem consegue copiar… em vez de estudar; quem consegue enganar o árbitro no “penálti”… em vez de continuar a lutar; quem consegue pedir fundos da comunidade para a empresa e aplicá-los em bens pessoais… em vez de fazer investimentos na melhoria de condições de trabalho e formação dos seus trabalhadores, ou seja, a indisciplina está ser valorizada, pois, muitas vezes, vence o “batoteiro” ao “empreendedor”. Lamento tanto, quando a farsa ganha e o cretino sai impune.
Em contraste, esta semana tivemos um ótimo exemplo vindo das terras germânicas. Para além do apoio, da cor, dos cânticos de suporte, os aplausos durante o jogo, os adeptos do Borússia Dortmund foram extraordinários quando, em consequência do adiamento do encontro para a Liga dos Campeões, com o Mónaco, disponibilizaram aos gauleses, as condições de alojamento e alimentação, para poderem assistir no dia seguinte ao encontro entre estas duas equipas. Este género de comportamento, solidário, de respeito, de suporte, é algo que todos nós devíamos fazer lema de vida. Tornamo-nos maiores e livres se conseguirmos respeitar, civicamente, os outros. Isso é o que se espera da Revolução de Abril. Uma Santa Páscoa!
Autor: Carlos Dias