16 – Sertório, um italiano que foi "nosso chefe"). Entre 83 e 72, por entre a complicada guerra civil entre os partidários do falecido Mário e os adeptos de Sila, os lusitanos irão combater ao lado do pretor Sertório, adepto do cônsul Papírio Carbão. Sertório só cá chega em 82 e envia Lívio Salinator (com 6 mil homens) para guardar os passos dos Pirenéus. Mas Salinator é assassinado pelos agentes de Sila. Sertório refugia-se em Cartagena (Múrcia) e daí embarca para a Mauretania (Marrocos) com 3 mil homens.
Porém, quando se abastecia de água, foi atacado pelos mouros e regressa à Hispânia. Mau tempo desvia-o das Baleares, destrói boa parte dos seus barcos e ele refugia-se na foz do Guadalquivir (ou Bétis). Marinheiros ibéricos (cónios, tartéssios?) falam-lhe de ilhas "afortunadas" (Madeira, Canárias?) e Sertório pensa fugir para lá. Contudo, é persuadido a voltar a Marrocos, para intervir na guerra civil de um tal Ascális contra outros "mauri". É então que, em 80 a. C., os lusitanos enviam emissários a Sertório, para que chefiasse a sua luta de libertação. Sertório regressa de África, à frente de 2.600 romanos e 700 líbios; e vence a armada de Cotta, oficial do dito Sila. E logo a seguir, em terra, vence as tropas de L. Fufídio, gov. da Ulterior.
17 – Chega Metelo, esse "predestinado semental de conquistadores das Américas"...). Logo Roma nomeia governador da H. Ulterior, o famoso Quinto Cecílio Metelo Pio, no ano de 79. É contre ele que Sertório vai lutar. As bases de Metelo terão sido Medellín (Badajoz), Castra Caecilia (Cáceres), Vicus Caecilius (serra de Gredos) e Medelim (Castelo Branco). Sertório procura defender, no sul de Portugal, Dippo e Conistorgis. E envia
2 mil odres de água para ajudar Lacóbriga (Lagos) a resistir. Quando Metelo envia Aquino e 6 mil homens para reforçar o cerco, Sertório ataca e vence. Em 79, Hirtuleio (questor de Sertório) vence Domício Calvino, pretor da Citerior, em Consabura (Consuegra, Toledo). E depois, em Lérida, vence Mânlio, o procônsul da Narbonense (na Gália do sul). É então, em 76, que também se refugia em Espanha outro general romano (partidário do derrotado Lépido). É M. Perpena, traz 53 cootes e vem para combater Metelo. Os seus soldados obrigam-no a juntar-se a Sertório. Entretanto, o 3.º aliado de Sertório, Herénio, acaba sendo vencido, em 75, por Metelo, em Itálica; é depois, morto numa batalha que J. ALARCÃO (op. cit.) situa perto de Elvas ("Segovia"). Entretanto, chega à Espanha o grande general Pompeu (76), que logo vence o citado Perpena, aliado de Sertório.
Apesar disso, e segundo Salústio, Perpena ainda toma Cale (Gaia). Mas, azar para Sertório, em 73 Roma amnistia os partidários de Lépido; e Perpena muda de campo. As deserções na tropa de Sertório multiplicam-se e este castiga-as com violência (p. ex., executa em Huesca vários chefes iberos). Pompeu e Metelo recuperam cidades e províncias. E, em 72 a. C., Perpena e Tarquínio assassinam Sertório. Depois, é Pompeu que recusa a aliança de Perpena; e o vence e mata.
18 – E chega Júlio César, o futuro conquistador das Gálias). Em 61, o nóvel gov. da Ulterior é o terrível Caio Júlio César, o divino, o fundador de Santarém (Scalabis Praesidium Julium). Diz Dion Cássio que César, numa época de paz e sabendo que os lusos não iriam obedecer, mandou-os descer dos seus castros nos Hermínios, causando novos combates. Muitos mandaram as mulheres e filhos para lá do Douro. Outros usaram os bois como barreira, mas César venceu-os na mesma. Os lusos preparam-lhe uma emboscada, mas foi César que os perseguiu até ao Atlântico (Peniche?). Aqui, muitos romanos parecem contudo ter parecido, afogados. Depois de César, quase não há resistência. Em 48, contudo, Cássio Longino vence os Medubrigenses (da Meda). Os últimos lusos ainda lutaram contra os cesaristas, ao lado dos filhos de Pompeu e massacram os iberos de Ategna. E ajudam a recuperar Sevilha (com Fílon e Cecílio Negro).
19 – O casamento de Viriato). Famoso para os autores latinos do seu tempo, Viriato é um exemplo de herói especialmente para os tempos modernos, seja em Portugal ou na Europa. Atentai no seu casamento: narra Diodoro da Sicília que "casou com a filha de um rico proprietário lusitano, num daqueles anos em que infligia aos romanos, derrota sobre derrota. A boda era farta, mas Viriato não quis sentar-se.
Apoiado na sua lança, olhava com desprezo os manjares, as taças de ouro e prata, os preciosos tecidos. Ao sogro observou que era imprudência pôr grandes esperanças em precários bens materiais (...) que dependiam afinal de quem tivesse a lança. Tendo distribuído pelos seus homens alguns pães e carne, ele mesmo pouco comeu. Fez um sacrifício aos deuses, segundo os ritos Lusitanos; e, tomando a esposa, partiu a cavalo para as montanhas, onde vivia". Houvesse hoje gente desta...
Autor: Eduardo Tomás Alves