À falta de melhor, o questor do defunto Vetílio organiza contra os lusos uma tropa de Belos e de Titos, tribos do alto rio Tejo, aliados de Roma. Mal pensado: conta o historiador Apiano que os lusitanos os mataram a todos, não ficando um único que pudesse ir anunciar a derrota.
11 – Viriato ataca a zona de Toledo). Em 146 a.C., o novel caudilho luso ataca a Carpetânia, no centro de Espanha. O pretor Pláucio Mipseu ataca-o e Viriato, fingindo receio, foge para terreno mais favorável às suas táticas e, caindo de surpresa sobre os italianos, derrota-os. Mas Pláucio não desiste. Segue na esteira dos bandos lusos até um sítio que o citado Apiano designa por "monte de Vénus" (talvez por ter a forma de um seio). Será a serra de S. Vicente, a norte de Talavera? Será o majestoso Jalama (a leste da Malcata)? Será o Torrico, na serra de S. Pedro (Cáceres), onde eu já vi veados e manadas de touros bravos? Pois é aqui que Pláucio sofre segunda derrota e desiste de novos combates até ao fim do seu mandato. Ainda em 146, é desta sua base do monte "de Vénus" que Viriato ataca Segóvia (a norte de Madrid) e Segobriga (entre os rios Júcar e alto Guadiana); ambas eram aliadas de Roma. Depois logo em 145 (segundo narram Orósio e Floro) Viriato derrota o pretor Cláudio Unímano.
12 – Roma manda um cônsul...). A máquina de guerra romana tivera no ano de 146, dois grandes sucessos, mas fora de Espanha: a derrota definitiva de Cartago e a tomada de Corinto (na Grécia). Decide então enviar para o governo de Ulterior (em Espanha) um cônsul e não um "simples" questor. Ele era irmão do famoso Cipião o Africano e chamava-se Fábio Máximo Emiliano. Porém, só lhe dá 17 mil soldados e mal treinados. É nessa altura que Viriato faz uma razia à zona de Córdova. O cônsul vai, já em 144, reunir as suas tropas às do governador da Citerior (G. Lélio Sapiente) e guerreia Viriato, tomando-lhe duas "cidades". Em 143 há novos governadores (Q. Pompeio e Quíncio) e logo Viriato subleva as tribos dos Arévacos, Belos e Titos (a norte e leste de Madrid). De início, Quíncio vence os lusitanos, que fogem para o monte "de Vénus". Daí contra-atacam e vencem Quíncio. Tomam Itucci (hoje Martos, perto de Jaén); e devastam a Bastetânia, a zona de Granada. E, em 142, derrotam L. Cecílio Metelo, gov. da Ulterior.
13 – Roma envia o procônsul Q. Fábio Máximo Serviliano). Dez anos de esforços, batalhas e correrias, decerto que vão desgastando a heróica resistência dos homens de Viriato. Serviliano, o novo governador, retoma-lhes Itucci (Martos), cidade que mudou várias vezes de partido; e da qual Viriato dizia (segundo Diodoro da Sicília), que lembrava a história do homem velho que tinha duas esposas; a nova arrancava-lhes os cabelos brancos para que não parecesse velho; e a velha fazia o mesmo com os cabelos negros para que parecesse velho; o marido acabou por ficar careca... Esse era o aviso (e apelo) de Viriato para Itucci. O forte ataque de Serviliano leva a guerra ao país dos Cónios (Algarve) e à própria Lusitânia ocidental. Inesperadamente, no regresso, Serviliano sofre um sério revés, quando é vencido por um forte bando de 10 mil lusos, celtas (do Alentejo) e cónios, chefiados por dois homens (desertores?) com nome italiano, Cúrio e Apuleio. Serviliano fica sem o saque.
Mas consegue matar Cúrio e reaver o "tesouro". Parece haver um outro bando, chefiado por Connoba, que Serviliano derrota; e manda cortar as mãos de todos os resistentes. Os romanos tomam então aos lusos as cidades de Astigis e Obulcula, fazendo 10 mil prisioneiros. Decapitaram 500 e escravizaram os restantes. E atacam Erisane (ou Arse, na Betúria). Mas Viriato contra-ataca e encurrala as tropas de Serviliano, que podia então dizimar. Inesperadamente pede a paz. Os romanos "concedem-lhe a independência" das suas terras e o título de "amicus populi Romani".
14 – Em 139 Viriato é assassinado). Nesse ano, o novo governador, Q. Servílio Cepião é autorizado pelo senado a romper a paz. E logo ataca os lusitanos, os Vetões (de Zamora e Valladolid) e os calaicos (que são pela 1.ª vez citados por fontes greco-latinas). As suas bases terão sido Castra Servilia (Cáceres) e Caepiana (no Alentejo). Viriato volta a pedir a paz: primeiro a Popílio Lenate; depois ao próprio Cepião. Envia 3 "amigos" (Audax, Ditalco e Minuro), que Roma suborna; e que, à traição, no regresso matam o caudilho dos Hermínios. A Viriato ainda sucede um tal Táutalo; porém, sem forças, logo pede a paz. Roma concede-lhes algum território e uma cidade (Valencia de Alcantara?).
Em 138, sucede a Cepião o procônsul Décimo Júnio Bruto, que fortifica Lisboa, toma por base Moron (Ribatejo) e invade o norte, para cima do rio Minho. É ele que pega no estandarte vermelho e mata o medo de cruzar o Lima (o "rio do esquecimento"). Conquista Talábriga (no baixo Vouga) e destrói o castro de Terroso (V. do Conde). Porém, a resistência não desarmará. E de tal daremos conta no próximo (e último) episódio desta "saga" ibérica, tão esquecida...
Autor: Eduardo Tomás Alves