Cerca de 15/8/18 foi encontrado perto de Port Elizabeth o corpo do ex-Polícia Sul-Africano Mark Minnie. “Tratar-se-ia dum suicídio”, tinha uma bala na cabeça e uma arma perto.
Uma semana antes, Minnie tinha revelado mais pormenores de terror ligados a um círculo de pedofilia conexionado com personalidades públicas do “Estado” e da sociedade racista do Apartheiddurante os anos 80/90. “Devotos governantes praticantes cristãos”.
Como ex-investigador deste caso, anos atrás, Minnie estava a promover o livro, “The Lost Boys of Bird Island”, co-autoria com a jornalista Chris Steyn. O livro faz alegações contra Magnus Malan, outrora o poderoso ministro da defesa do Apartheid, acusado de também comandar esquadrões da morte que inclusive faziam raides em países vizinhos. Um dia Steyn pediu a Malan para falar.
Malan respondeu: “O que é um pedófilo?”. Em 2011, Malan morreu de ataque cardíaco, depois de 17 anos do Grande Democrata Nelson Mandela se tornar Presidente. O Apartheid, e o verdugo Malan, defendiam que “a Bíblia justificava o racismo e a defesa da fé, famílias e raça branca contra comunistas ateus e pretos incivilizados”.
No livro “Os Rapazes Perdidos na Ilha Pássaro”, Minnie e Steyn alegam que Malan fazia parte do círculo pedófilo que violava jovens rapazes, na sua maioria mestiços, com o pretexto de “irem à pesca para a Ilha Pássaro”, reserva natural perto de Port Elizabeth.
Os rapazes eram transportados por helicópteros militares, eram drogados e embebedados e, depois, já na ilha, abusados sexualmente em orgias criminosas. A família de Malan, como os seus colegas, rejeitam até hoje tais acusações. Quais alguns dos pormenores do livro?
Alguns dos rapazes, hoje homens, recordam que Malan era conhecido como o “tio cruelorelhas”. Numa ocasião, “Malan introduziu o cano duma pistola no ânus duma criança e disparou”. Como não morreu, levaram-na para um hospital de Port Elizabeth: há relatos de “homens adultos vestidos de mulheres a transportar uma criança mestiça ferida”.
Assim, como “foram pagas somas de dinheiro ao pessoal do hospital e família do rapaz para esquecerem a história”. Foi aqui que Minnie entrou no caso, mas logo recebeu a seguinte mensagem do Procurador em letras vermelhas: “Qualquer investigação neste assunto deve ser descontinuada imediatamente”.
O livro fala também do ministro do ambiente John Wiley e do milionário Dave Allen, “amigos de Malan”. Allen chegou a estar preso por ter sido apanhado a ter relações sexuais com crianças e em posse de pornografia infantil. “Foi aliás Allen que começou a denunciar os outros, incluindo 3 ministros”, diz Minnie.
Um nome de ministro “permanece misterioso”. Minnie sempre se queixou de ameaças de morte. Allen (37) e Wiley (60), foram encontrados mortos em 1987 com balas na cabeça. Oficialmente: “suicídio”.
Minnie apareceu agora em Agosto da mesma forma. Coincidências? A jornalista Marianne Thamm que também ajudou à edição do livro afirmou que “um amigo de Minnie dos serviços de segurança nacionais avisou-o de que poderia ser assassinado”.
E por isso Minnie tinha emigrado para a China onde se tinha tornado professor. Tafelberg, o Editor, disse que “este livro é apenas o início” e que “Minnie nunca tinha falado em suicídio”.
A polícia abriu um inquéritopost-mortem. Caso se confirme o assassínio, trata-se dum aviso aos testemunhos. A NPA-National Prosecuting Authorityem 6/8/18, afirmava que “iria abrir uma investigação criminal sobre este círculo de pedofilia” (Sowetan live, G. Hosken).
Mas como diz F. Chouthia, BBCNews, 15/8/18, a jornalista Steyn afirmou: “vou continuar a investigação, como Minnie sempre quis”. Este caso faz lembrar o célebre “Processo Casa Pia” que ocorreu em Portugal recentemente.
Assim como uma série de casos globais ligados também à Igreja Católica em vários países do mundo e sobre os quais o Papa Francisco tem falado. Nada disto se relaciona com qualquer religião, mas sim com o uso do poder para cometer crimes contra a Humanidade.
Não nos calemos, pois. Queremos Justiça também terrena.
Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira