Hoje em Portugal e um pouco por todo o mundo, celebra-se o 1.º de maio, “Dia do Trabalhador”.
O 1.º de maio é uma data histórica na emancipação dos povos que tem as suas origens nas grandes manifestações operárias de Chicago iniciadas no primeiro dia do mês de maio de 1886 que, após terem causado enorme sofrimento a muitos dos seus participantes, terminaram com a aprovação da jornada de trabalho de oito horas.
Não estando no âmbito desta reflexão aprofundar a história do feriado que se comemora neste dia, mais de um século passado sobre os tumultos que envolveram milhares de americanos reclamando um horário mais justo e melhores condições de trabalho, acredito que faz todo o sentido ir ao encontro do seu significado e debater as razões da sua celebração no tempo presente.
O moderno desenvolvimento científico e tecnológico que hoje presenciamos tem as suas origens na expansão industrial do século XIX.
Desde então, o homem não mais deixou de inventar, de aperfeiçoar e de inovar chegando à realidade que hoje todos podemos testemunhar.
Se todo o desenvolvimento alcançado não para de nos surpreender, não deixa de ser razão de grandes preocupações a exaustão dos recursos naturais, o aumento galopante da poluição e as alterações climáticas que o mesmo tem provocado.
Os grandes avanços económicos e sociais conseguidos até ao presente não nos devem levar ao esquecimento do 1.º de maio e da sua enorme importância na emancipação dos povos. As profundas alterações em curso no mundo laboral são, por si só, motivo suficiente para o lembrar.
Para quantos defendem uma sociedade mais justa e solidária, continua a ser importante não desmobilizar e manter a vigilância sobre todas as tentativas de reverter os ventos da História.
Na sociedade contemporânea onde o desemprego ainda continua a ser um problema social importante, em que a tendência para a precariedade laboral se mantém e a eclosão de novas formas de exploração é uma constatação irrefutável, urge não afrouxar.
A última crise económica e financeira mundial que teve o seu início em 2008 não pode ser motivo para fazer proliferar um modelo de sociedade puramente mercantilista e de transformar o trabalho numa simples mercadoria sem direitos, nem dignidade. É preciso estar alerta e não permitir o regresso à ditadura do capital sem rosto, que faz letra morta dos valores da liberdade, da solidariedade e da justiça.
As grandes transformações sociais trazidas pela globalização não podem ser pretexto para pôr em cheque os avanços civilizacionais alcançados e, muito menos, para voltarmos a aceitar novas formas de escravidão.
O caminho para uma sociedade mais desenvolvida, mais justa e mais fraterna, primordial garantia de paz, nunca poderá fazer-se ignorando a pobreza, as injustiças e as desigualdades e, muito menos, basear-se na desregulação arbitrária das relações laborais.
Preservar a dignidade do empregador/trabalhador, onde cada um assuma as suas responsabilidades, é a chave do sucesso para uma relação cordial e humana. Recordar esta data, é também uma oportunidade para lembrar as premissas que devem estar presentes nesta ligação, sem as quais não poderá haver um verdadeiro progresso.
A cada um de nós, mas principalmente a quem tem a responsabilidade de dirigir o nosso destino comum, impõe-se a procura constante de novos modelos capazes de dar resposta aos desafios do nosso tempo, de modo a contribuir para o desenvolvimento pleno de todo o ser humano.
Festejar o 1.º de maio, mais do que lembrar uma data e prestar homenagem a quantos contribuíram para que hoje a pudéssemos celebrar, deve ser uma boa razão para reler documentos importantes da Igreja Católica como as encíclicas “Rerum Novarum”, do papa Leão XIII, sobre a condição dos operários, a “Populorum Progressio”, do papa Paulo VI, sobre o desenvolvimento dos povos e, mais recentemente, a “Laudato Si”, do papa Francisco, sobre a Terra, nossa casa comum. Será sem dúvida uma oportunidade para dar a tão marcante efeméride a dimensão que merece e procurar adaptá-la às circunstâncias do tempo presente.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira