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Cascatas do São João, fora da órbita popular

O concurso das cascatas alusivas ao São João de Braga sofreu um duro golpe ao deslocar-se para outras bandas, bem distantes do “palco central”. Uma decisão polémica e malvista pelos munícipes que não compreendem a comissão de festas sanjoaninas de transferir para fora do perímetro urbano algo que faz parte integral da vivência deste evento popular junto da cidade, da sua comunidade residente e visitante.

As cascatas do São João de Braga foram alvo de “despejo” do Largo S. João do Souto, transitando a sua exposição para a escadaria do “Shopping Braga Parque”, um espaço bem distante de mover sensibilidades como cartaz de atracção dos bracarenses e seus visitantes ao referido local no âmbito das festas da cidade.

Já encerrada a caixinha de sugestões à comunidade bracarense, e creditando a parca explicação da comissão de festas sobre os motivos da transferência devido a questões de segurança, prevalece a ideia da colocação da exposição das cascatas do São João, nas Arcadas da rua do Castelo, como local alternativo de excelência, mantendo, deste modo, um elo de convivência com todos os que se prezam em participar activamente num dos arraiais mais populares do Minho.

Desviar para a “periferia da cidade” uma componente destes festejos populares, é “decapitar” um alicerce patrimonial da colectividade bracarense, rigorosamente mantido como uma manifestação popular intensa das suas raízes culturais e tradicionais mantidas ao longo de décadas.

A mudança das cascatas de São João é mais um acréscimo aos recentes contornos das alterações estruturais e históricas das origens sanjoaninas que sempre estiveram cuidadosamente patentes na memória dos bracarenses, mais de acordo com a prática da cultura tradicional dos hábitos do povo, dos costumes, da tradição regional e assente no espírito popular da comunidade residente e dos muitos milhares de convidados que se deslocam a Braga, convivendo e partilhando entre todos um lastro de alegrias ao ritmo das cores vivas do folclore e de animação de rua, ímpares na riqueza patrimonial do Minho, mas sempre centrado no “coração” da cidade.

Ironizando a decisão da comissão de festas do São João de Braga de deslocar as cascatas para o “Shopping Braga Parque”, é de prever que os pilares elementares do “corpo e da alma” que dão vida às festas sanjoaninas na cidade dos Arcebispos potencie um dia, sem surpresas, e para variar, a ideia de fazer um triângulo festivo, em que o espectáculo do fogo-de-artifício vai ser executado no “Minho Center, Centro Comercial” e os que pretendem assistir à passagem do carro alegórico das Ervas, dos Pastores e Rei David, terão que se deslocar ao “Centro Comercial Nova Arcada”.

Obviamente que o São João é de todos e não de alguns, e sem precisar de grande esforço, é notório a existência de ruas para que as cascatas se mantenham no centro da cidade, sem necessidade de as deslocar para fora da órbita popular da sala de estar citadina.

Nesta sequência, teme-se que as modificações que surgem todos os anos não empobreçam um ex-libris de tamanha grandeza e dignidade tradicional e comece a ficar encalhado pelo desnorte, ausência do carinho que merece o nosso São João Batista no cômputo dos festejos dos Santos Populares junto das pessoas, da comunidade bracarense, dos seus visitantes em prol dos seus costumes culturais e tradições patrimoniais.


Autor: Albino Gonçalves
DM

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30 abril 2018