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Capital Europeia da Cultura. Para Todos.

É uma oportunidade para a arte e para a criação porque [...] um dos aspetos que ameaçam a arte contemporânea, tornando-a um exercício de contrafação, é o impacto do mercado. Há uma espécie de mercantilização da arte. Tudo tem um preço, tudo é em função dele.”

O cardeal José Tolentino Mendonça acaba, com a frase supracitada, um dos seus últimos livros inspirado no discurso da comemoração do dia de Portugal. E eu, quase meio ano depois, recupero-a porque ela é, no momento em que Braga apresenta, ao público, a sua estratégia para a cultura na próxima década, essencial à nossa reflexão comum.

A arte e a criação – da música à dança, do teatro à literatura, dos tradicionais museus às galerias digitais e às media arts – devem ser, numa época em que todos procuramos recuperar de uma crise que nos assola, o motor da beleza da vida e da reforma da nossa comunidade. A cultura tem, em si, a capacidade única de nos juntar, sem distinção ou discriminação, para refletir sobre a comunidade que temos e a que queremos. E é precisamente sobre isso que hoje vos escrevo.

Num momento de unidade nacional, é importante que todos os agentes da cidade estejam juntos para o sucesso da candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura (CEC). Ao contrário do passado, em que alguns, para benefício próprio, quiseram criticar o planeamento e execução de Braga enquanto Capital Europeia da Juventude (CEJ) em 2012, gostaria de apelar à unidade e ao envolvimento de todos os bracarenses. Precisamente porque entendo que o sucesso, reconhecido localmente e internacionalmente, da CEJ 2012 foi vital para o tecido juvenil bracarense espero, e desejo, que tal aconteça na preparação da CEC 2027.

Precisamos de uma capital da Cultura que não deixe ninguém para trás. Não bastará estimular o tecido cultural que a cidade tem de há décadas para cá. É preciso proteger todas as instituições, artistas e agentes da arte que se dedicam à cultura, não deixando que a sua história se reduza a memória. É necessário envolver todos os artistas individuais – aqueles que tanto sofreram com a pandemia COVID-19 – nos diferentes âmbitos da programação. É necessário que se capacite verdadeiramente um movimento artístico capaz de perdurar no tempo os efeitos iniciados por esta candidatura. É necessário que a academia e os estudantes estejam envolvidos na organização do evento, promovendo sinergias óbvias que fixem os mais jovens no concelho. A cultura deve ser não só sustentada pelo estímulo do emprego digno, mas também pela criação de um ambiente propício à criação artística e ao consumo da mesma por parte de todos, sem exceção.

Também aqui, tal como as entidades públicas, as empresas têm um papel fundamental. Trabalhadores e cidadãos com mais acesso à cultura são, por natureza, pessoas mais motivadas, mais conscientes e mais dinâmicas. Por isso mesmo, acredito que o Município de Braga, sabendo que cada trabalhador passa a maioria do seu tempo útil semanal no seu local de trabalho, estimulará o acesso à arte no contexto laboral.

A cultura só faz sentido se for universal, capaz de incluir todas e todos. Ela funciona como memória e como utopia, como passado e como futuro. E, se queremos uma cidade com futuro, onde o sentido de comunidade e a alegria de viver sejam ex-libris, precisamos de colocar a Cultura onde é devida. No centro do nosso tempo e do espaço comum.

Destaque

Ao contrário do passado, em que alguns, para benefício próprio, quiseram criticar o planeamento e execução de Braga enquanto Capital Europeia da Juventude (CEJ) em 2012, gostaria de apelar à unidade e ao envolvimento de todos os bracarenses.


Autor: Hugo Pires
DM

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29 novembro 2020