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Benjamim Araújo, um exemplo de fé

Creio que um dos pilares da educação está no exemplo. Não me vou estender na procura de exemplos porque a lista seria tão vasta, desta forma, fixo-me em Jesus de Nazaré. Fiquei espantada ao descobrir que Jesus, antes de falar para o mundo, passou pelo mais dramático teste de stresse: “Quarenta dias no deserto sem comer, e no ápice do esgotamento físico e mental, ele conseguiu pensar: nem só de pão vive o homem.” A que nutriente se refere? Físico ou metafísico? Pináculo do tempo e estrela religiosa, em Jesus encontro três competências sociais essenciais que, a meu ver, fortaleceriam o edifício da educação: liderar com compaixão, influenciar com benevolência e comunicar com visão. A compaixão é reconhecida como uma grande virtude por todas as confissões religiosas e por numerosas filosofias. Mas não se limita a ser uma grande virtude. A compaixão é também a causa do maior nível de felicidade alguma vez medido e uma condição necessária para a mais eficaz forma de liderança conhecida, não descurando as suas componentes cognitiva, afetiva e motivacional. É uma coisa incrível! Recordo o meu pai como um homem íntegro, sensato, calmo, afetuoso e com uma humildade intelectual, apanágio daqueles que são aquilo que são! Usava muito mais do que o método socrático para fomentar perguntas: usava a arte da dúvida como um bisturi para penetrar em camadas mais profundas dos textos e livros que lia, para os reviver, para dissecar as suas implicações e para perceber os seus limites e capacidades. Tudo isto para ver os factos com a menor contaminação possível, razão pela qual não se poupava, questionando as suas proposições a cada instante. Queria ver o mundo como ele é, não como gostaria que fosse. Perguntei-lhe um dia se era feliz e respondeu-me: “Sabes o que é a felicidade, minha filha?” Na altura achei desconcertante responder-me com uma pergunta, ainda que não inédita esta forma de argumentar, fez-me pensar, sair da zona de conforto, destabilizou-me. Creio, hoje, que a melhor das educações é a autoeducação. Banalizou-se a felicidade assim como se banalizaram as palavras, os gestos, as emoções e as relações. Mascarámo-nos em causas, sem lutar por elas, educamos sem educação, falamos ignorando o que dizemos, queremos ser felizes desconhecendo a felicidade. Atrevo-me a dizer que o homem verdadeiramente feliz é aquele que, entrosado e conectado com o existencial, estabelece com ele relações de amor, bondade e compromisso, mas aprendi contigo pai e acredito, que só somos verdadeiramente felizes estabelecendo relações ajustadas com o transcendente e o transcendental, compreendendo que é o nosso verdadeiro ser, a nossa ôntica natureza, que o exige. De outra forma, a nossa existência perder-se-ia no tempo. Compreendo hoje, melhor do que ontem, que o nosso ôntico ser, o uno, enquanto ser existencial, exige ajustamentos. Evoluímos ao nível científico e tecnológico, mas estagnamos ou mesmo regredimos ontologicamente: não conhecemos verdadeiramente a nossa ôntica natureza resultando comportamentos e atitudes desajustadas aquilo que verdadeiramente somos. Sobrevivemos à saudade dos nossos entes queridos porque o nosso verdadeiro ser assim o exige, de outra forma, a felicidade apagar-se-ia no horizonte imperando a dor. Sem bondade e amor, o céu seria o inferno, e sim, só nos superamos com amor, e esta foi a melhor herança que nos deixaste pai! Privar com os nossos pais é a melhor forma de lhes agradecer a dádiva da vida, e sim pai, privar contigo foi o maior privilégio que tivemos. Todo o aprendiz necessita de um mestre. Ó tempo, em ti me supero e em ti me perco! Por ser fascinante e efémero, de paz e guerras, alegrias e tristezas, presenças e ausências, devemos repensar a noção de tempo e do tempo. Termino com um pequeno excerto sobre o tempo de Benjamim Araújo: “Ó tempo, tu és a porta que se abre à nossa eterna ventura ou desventura. É dentro de ti que o homem por sua vontade se ganha ou se perde eternamente. É em ti que o homem, se quiser, pode com os seus dons louvar o Eterno e recalcar as forças do inferno. Tu vales, ó tempo, o que vale o meu fim. É contigo que o preparo. Tu és o crente feliz junto de Deus e o condenado envolto nas chamas do inferno. Se todos os bens da terra têm valor porque satisfazem as necessidades corporais, tu és muito mais porque és a torre da alma para Deus. Tu vales, ó tempo, o que vale o meu fim. É contigo que o preparo.”
Autor: Maria Helena Araújo
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24 julho 2019