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Atreva-se a pensar... diferente

Foi o que li numa propaganda de rua, e sorri. Sorri porque a frase punha em evidência que o seu autor estava a pensar igual. De facto, é bom animar os homens a pensar, se for para buscar a verdade  e, por isso, a primeira parte do título merece letras capitais; mas pensar diferente, não faz sentido, pois é enorme o risco de se cair no erro. Além disso, ao aconselhar o pensamento diferente, o seu autor caiu no pensamento da moda, e muito próprio do adolescente, que começa a dar os primeiros passos na arte de pensar: a de pensar e fazer diferente, só para ser diferente. A partir do momento em que o nosso pensamento chega a alcançar a verdade, é bom que siga essa linha da verdade, pois a diferença conduz ao erro ou à mentira. Recordo o episódio acontecido num jantar de cientistas. Uma senhora perguntou a um deles se tinha progredido nos seus trabalhos de investigação. “Sim” respondeu ele “Descobri que o vírus é resistente a 28 elementos químicos”. Logo, aqueles 28 elementos não iriam entrar na composição do novo remédio. Se fossem escolhidos por um investigador que queria atrever-se a pensar diferente, jamais conseguiria curar a doença.

Alonguei-me demasiado para tentar explicar o inexplicável. Embora o homem seja capaz de pensar, existem muitos mistérios que permanecem ocultos à mente humana, nomeadamente a vida e a morte. A vida e a morte fogem ao âmbito da liberdade humana, no sentido de que ninguém escolhe entrar no mundo ou sair dele, nem pode escolher quando, onde, ou como nascer ou morrer. No entanto, estas três coordenadas da vida (o quando,  o onde e o como nascemos e morremos) fazem parte da identidade de cada pessoa, da sua verdade. Corre-se o risco de perder ou modificar a identidade sempre que a pátria, a família, ou o modo de nascer ou morrer é desviado da verdade, seja por recurso à mentira ou a meios que vão contra a natureza. Maior ainda é a mentira se tais meios são chamados científicos pois, nesse caso, são mentirosos e desumanos, isto é, magoam a natureza humana por enganarem e ferirem os sentimentos. Que sentem os pais quando os filhos se atrevem a interpela-los com as primeiras perguntas filosóficas, o temido porquê infantil, ansioso pela verdade que, pensam eles, está na posse dos pais. Um porquê temido, porque os adultos se confrontam com a sua consciência de pessoas; e quantas vezes se apercebem de que traíram os seus sonhos de construir um mundo melhor e foram carrascos da mulher amada, assassinos dos filhos não nascidos, senhores dos empregados-escravos, ladrões de heranças  de irmãos, advogados de corruptos... 

Para alguns, o caminho a seguir é ensinar os filhos a “abafar” a consciência, persuadindo-os de que não há mal no mal, essa espécie de  eutanásia do pensamento que consiste em sacrificar a verdade à imagem que os outros podem fazer de nós, particularmente os filhos. Para outros, o caminho é corrigido, ou confirmado, mediante o recurso a uma atualização da busca da verdade. E isto sim! É atrever-se a pensar diferente.


Autor: Isabel Vasco Costa
DM

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25 fevereiro 2017