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Até sempre, Amigos!

Hesitei no título. Escrevi; apaguei; reescrevi; voltei a apagar. Retornei à primeira hipótese; não gostei, e saiu-me a versão definitiva. Quero falar de alguém que já nos deixou há uns anos, mas que continua presente. Dois Amigos com ligação profunda ao Diário do Minho. Cada um deles me honrou com a sua Amizade. Pela minha parte, ela manter-se-á viva enquanto a senilidade não me atacar.

Ainda confinado e a recuperar da fractura da perna direita, cá vou passando o tempo… Leio, escrevo, para manter a actividade da mente, ora com matéria nova ora em revisões da matéria dada. Foi o caso presente. Calhou em conversa amena e amiga falar da apresentação do meu primeiro livro (o «Histórias de um Professor e Outros Quadros Vivos»). E vasculhámos nas recordações escritas.

Não crio mais suspense. O meu querido e sempre lembrado Amigo Jaca foi o apresentador do livro no velho auditório Álvaro Carneiro da extinta E. S. A. Sampaio. O Professor Carlos Jaca foi um digno e douto colaborador do Diário do Minho. Penso que os seus escritos ainda hoje são lembrados.

Estava no fim o primeiro mês do ano de 2004. Fruto da nossa mútua Amizade, ele deu-me então o manuscrito com as palavras que na altura proferiu. Reli-o. E encontrei uma referência ao Dr. Abílio Peixoto.

O Dr. Abílio é outra personalidade na história e na vida deste jornal. Faço um parêntesis na apresentação do meu livro, para recordar este outro Amigo. E peço licença ao Ex.mo Senhor Damião Pereira, Director do Diário do Minho, para citar um episódio do seu Editorial, aquando do passamento do Dr. Abílio. Faço-o de cor; que me releve qualquer falha.

Estava o Dr. A. Peixoto em Mafra, na tropa, num grupo e tinha um Diário do Minho na mão. “Intrometeu-se” na conversa um moscardo. Um dos do grupo pediu-lhe o jornal para matar o intruso. Ineficaz na manobra, o outro terá exclamado: «Esta “m...” nem para matar um insecto serve.» Ao que o Dr. Abílio terá retorquido: «Perdão! O que falhou foi a pontaria». Fecho o parêntesis.

E passo a transcrever algumas das palavras de Carlos Jaca. Quase no início, ele diz: «Estou nesta situação [a apresentar o livro] apenas por uma recíproca Amizade. Só isso. Uma singela mas muito sincera manifestação da minha parte. O Bernardino nasceu em Santa Clara, na outra margem do rio; sei lá, talvez ao atravessar a ponte utilizasse já a “Via Verde”. Por se situar na margem esquerda, vejam lá, na esquerda naquele tempo…

O nosso relacionamento iniciou-se nesta escola há cerca de vinte anos, originando uma sólida amizade em que Coimbra funcionou como o elo mais forte.

[O livro] são páginas plenas de lembranças, sem usar uma linguagem literária, e muitos menos com pretensões de erudição. Linguagem “Saborosa e Escorreita”, na feliz expressão do Dr. Abílio Peixoto, antigo professor desta escola. (1)

“Histórias de Um Professor e Outros Quadros Vivos” é um livro que me diz muito, que me toca profundamente. Eu próprio e a Fernanda nos poderemos rever ali, em algumas linhas. Quando terminei a leitura de “Histórias de Um Professor e Outros Quadros Vivos”, ficaram-me saudades. Um dia voltarei a abri-lo, como se fosse a primeira vez.»

E… pronto. Para ti, Jaca. Continuo a sentir-me eternamente grato e decididamente compensado da tua Enorme Amizade!

Ao Dr. Abílio Peixoto quero recordar dois episódios de que muito me prezo. A introdução feita em DM Cultura, 07/08/2002, ao meu texto “Viagem”: «Aqui se narram as poéticas andanças de um belo rio (chamado Mondego…) desde que nasce no berço da montanha até que abraça o salgado leito da morte!» E, também em DM Cultura, 31/12/2003, referindo-se às “Crónicas” do livro, «agora ”enquadradas” num único volume, dá-lhes um cariz “existencial”, quais folhas caídas de uma frondosa árvore (a da vida…) que, por um gesto de pura magia, se ergueram de novo para enfeitarem os ramos que lhe deram vida e sentido...».

02- DIÁRIO DO MINHO / SEXTA-FEIRA 30.10.15

Relembrando Carlos Jaca – Abílio Peixoto

(1) «Conheci o Professor Carlos Jaca há cerca de 30 anos, quando (nos primórdios da minha carreira docente) fui colocado na Escola Secundária de Alberto Sampaio. O seu aspecto “recatado” e a simpatia com que tratava todos os que ali trabalhavam e estudavam rapidamente nos aproximou um do outro.

O Professor Jaca honrou-me porque ele sabia ser um verdadeiro Amigo. Desejo apenas, com este singelo texto, recordá-lo (com enorme saudade!) e afirmar que, em toda a sua vida, fez jus ao “aforismo” enunciado pelo poeta persa Muslih-Al-Din Saadi Shirazi na obra O Jardim das Rosas: “Quando morreres, só levarás contigo aquilo que tiveres dado”!»

Nota final – A Vida de cada um: Dr. Carlos R. Jaca – 1935–2013.

Dr. Abílio Peixoto - ?–2016.


Autor: Bernardino Luís Castanheira Rodrigues Costa
DM

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8 setembro 2021