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As “passas” do Algarve

A hora de saída não obrigava a madrugar e sempre pensei ser possível dormir no regresso, quem sabe até, embalado pelo sabor de uma vitória e consequente taça no museu. Perceber, já na estação, que havia dois comboios, um para as claques e outro para os restantes adeptos, também me satisfez, pois assim cada grupo faria a viagem de acordo com os seus hábitos, sem ninguém perturbar, ou se sentir perturbado, por posturas ou gostos distintos.  

No entanto, quando entrei no comboio, o sonho de uma viagem confortável começou a esvair-se e transformar-se em pesadelo. Os assentos, aceitáveis para uma viagem de uma a duas horas, eram manifestamente desadequados para duas viagens de… oito horas cada. Uma casa de banho (mista) para mais de uma centena de pessoas, ausência de bar e zona entre carruagens a servir de sala de fumo, sem paragens até ao Algarve, foram mais “achas” para a fogueira do desconforto. Depressa o motivo da viagem nos fez esquecer as comodidades mínimas, como acontece sempre que nos dirigimos à Pedreira. 

Chegados ao Algarve, fizemos sensivelmente 1 km a pé para o estádio, enquadrados por forças policiais (senti-me membro de claque, sem nunca ter ido essa vontade) em estrada sem iluminação, a pisar, de vez em quando, bosta de cavalos que nos haviam antecedido, a acompanhar as claques.

Do jogo, e vitória do Moreirense, já tudo foi dito e escrito, mas faltava o regresso a Braga. Juntem a derrota, o cansaço e a impossibilidade de aceder a casa de banho (agora só autorizada a senhoras) tendo como (novo) WC o espaço (usado por fumadores) entre carruagens. Experimentem tentar dormir num espaço que cumulativamente tenha: bancos desconfortáveis; luzes que não se apagavam; diferentes odores de réstias de comes e bebes, de gente que se descalçava, de quem vindo do improvisado WC, trazia pinguinhas excedentes, a outros, derivados e consequentes de uma alimentação desregrada, que dava a volta ao intestino. Acreditem que desde a meia noite às sete e quinze, quando a nossa locomotiva “aterrou” em Braga, foi tudo cheirado,  sofrido e sentido num silêncio possível, entrecortado com piadas de ocasião para melhor suportarmos o negativo resultado e… o resultado disto tudo.

Despedimo-nos dos nossos companheiros de viagem, jurando que não voltaríamos a meter-nos noutra, sabendo todos, que isto só será válido até o SCB atingir nova final, pois aí, já todos teremos esquecido esta dupla amargura, e juntar-nos-emos novamente na luta pela “conqvista” de novos e importantes troféus…

Abraço solidário aos companheiros de carruagens…


Autor: Carlos Mangas
DM

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2 fevereiro 2017