As eleições europeias morreram, viva as eleições legislativas: Como se diz em Françacom a icónica frase, “o rei morreu, viva o rei”, ou, como se diz cá em bom português, rei morto, rei posto. A campanha para as eleições nacionais legislativas não começa agora porque na verdade ela começou nas europeias. A abstenção nas europeias fala por si e não precisamos de acrescentar nada mais quanto a pouca ou nenhuma importância que o eleitorado nacional lhes dedica. Por toda a EU a coisa é semelhante. Interroguem-se os europeístas o porquê e depois encontrem as devidas respostas; mudem de rumo se quiserem que os europeus se interessem pelo que fazem ou deixam de fazer em Bruxelas. O mesmo se não pode passar com as de Outubro próximo. Nestas, os eleitores vão escolher algo de muito concreto: o próximo governo de Portugal, que, como é verdade, tem imensa interferência com a vida de cada cidadão. Bruxelas pode muito, é verdade, mas é aqui, em Portugal, que se talham as fatias do bolo que se chama orçamento do estado; é aqui que se fazem as políticas setoriais. Na partilha se definem as políticas de direita ou as políticas de esquerda. Já não se trata de votar em figuras majestáticas, mas em personalidades bem conhecidas, uma vez que os candidatos são os mesmos e repetem os mesmos argumentos de campanha; mas há coisas que os distinguem, a obra feita, a obra proposta e a obra onírica, isto é, a realidade, a promessa que entra no sonho e fantasia dos eleitores quiméricos. E estes são sempre muitos, são os que se não cansam de ser enganados. Há sempre quem acredite. E é para eles que se fazem as campanhas das utopias. Penso que a democracia já se não esgota no voto. Por toda a parte há manifestações de participação democrática , quer através dos sindicatos, quer através de ações espontâneas, quer pela comunicação social nos seus diversos meios, quer ainda pela liberdade como se diz ou exprime os agrados ou desagrados. Não se ensina para a liberdade, vive-se em liberdade; é o que se está vivendo. Devemos esta liberdade à democracia. Mas há uma coisa a esclarecer: a democracia não é um picnic onde todos comem por igual . Não, a democracia defende a liberdade de todos irem ao picnic mas cada um come da merenda que levar. Quando alguém vos disser o contrário não está a falar em democracia, está a falar-vos em demagogia. Ninguém gosta que comam do que é seu, pelo menos sem ser convidado, mas alguns não se importam de comer do que é dos outros, mesmo sem serem convidados. Se não comem é porque os não deixam. A democracia tem regras, a primeira das quais são os deveres mas também os direitos e estes comportam o direito à personalidade ou individualismo do sujeito. Muita gente julgava que a liberdade queria dizer tripa forra; não, a liberdade deve dar-te o direito igual ao teu semelhante para forrares como ele a tua tripa, mas nunca à custa do trabalho dele. Não te deixes enganar por uma promessa que parece um novo dia. É engano teu se pensas ou deixes que outros pensem por ti. Tem sentimento de ti, isto é, sê tu na verdade da assunção das tuas opções, sejam elas ideológicos ou doutro teor. A democracia é liberdade, mas não é despensa de ninguém. Nem tu quererias estar de barriga para o ar e comer do mesmo prato do que suou para o encher. A dignidade pessoal passa pela independência económica e não pela dependência crava. Luta pelo trabalho permanente, luta pelo salário digno, luta pelo direito à saúde, luta pela família, mas não lutes pelas utopias dessa igualdade que nunca a terás até porque tu não queres ser igual a ninguém nem na escolha dos sapatos.
Autor: Paulo Fafe