Na véspera de partir para Santiago com os finalistas da Secundária de Vila Verde, dirigi-me, como é meu hábito, à Pedreira para assistir à 2.ª mão da meia final da Taça de Portugal.
Feliz com a prestação dos atletas do meu clube, não comentei publicamente o jogo, pois entendi que a podridão (confirmada in loco) existente no nosso futebol não justifica que se percam amizades que aprendemos a respeitar na vida pessoal e profissional. Refiro-me àqueles, muitos, demais até, que quando o assunto é futebol e envolve o clube de que são adeptos, sofrem ataques de irracionalidade não nos deixando reconhecer, naqueles personagens, os seres afáveis com quem sempre pudemos trocar opiniões sobre (QUASE) tudo.
E estes estados de espírito, normalmente semanais, perturbam o equilíbrio, calma e tranquilidade de quem os vivência e de quem com eles interage. Às pessoas que se transtornam e transformam (quais lobisomens em noite de lua cheia) quando o assunto é futebol, eu sugiro que caminhem, caminhem muito e durante alguns dias, pois só assim haverá o efeito pretendido. Façam-no rumo a Santiago, a Fátima, ou… ao estádio do clube de que são adeptos, uma vez que estudos realizados mostram que estes distam muito da vossa área de residência.
Podem até ir em grupo (como é hábito no futebol) que terão vivências completamente diferenciadas e enriquecedoras. Acreditem, conhecerão melhor os outros e terão oportunidade única (como dizem no Caminho) de regressar a casa com um desconhecido – vocês próprios.
Anualmente peço aos alunos para, numa pequena frase, definirem o que mais os marcou no Caminho de Santiago. Escrevem frases sentidas e uma das mais lidas, é: “O Caminho fez-me perceber que há coisas que habitualmente desprezamos, muito mais importantes do que aquelas que consideramos essenciais”. Ouçam-me, o futebol faz parte destas últimas.
Nesta caminhada com os nossos finalistas, desde há onze anos, passei por muitas situações que me ensinaram a relativizar resultados desportivos ou pequenos insucessos pessoais. Este ano, enquanto caminhávamos, houve bolhas qb., apanhamos imensa chuva, o ABC foi eliminado da Taça de Portugal, o SCB foi derrotado pelo Moreirense mas, tudo perdeu importância, ao tomar conhecimento do acidente que vitimou Sandra Pinto, que semanalmente usufruía do prazer de acompanhar o crescimento humano e desportivo do seu filho, futebolista da formação do SCB.
Nestes momentos, as derrotas ou vitórias desportivas passam para um plano ínfimo, sendo, apenas e só, o que sempre deveriam ser - momentos de aprendizagem e crescimento para os atletas em confronto, e satisfação ou tristeza, ambas passageiras (com durabilidade de uma semana ou menos) para os adeptos envolvidos.
Relativizemos, pois, o futebol e seus resultados e valorizemos a família e as verdadeiras amizades. Ao David Veiga, família, amigos e colegas de clube, envio um forte abraço solidário, neste momento impensável, em que ALGUÉM “partiu” demasiado cedo.
Autor: Carlos Mangas
Aprendam a valorizar o essencial e a relativizar… o futebol
DM
12 abril 2019