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Ano novo - luta nova

Acabou mais um ano e está a começar um novo. Esta realidade que nos sucede sempre que Dezembro dá lugar a Janeiro, deve levar-nos a pensar em todo o mundo que nos circunda e de que fazemos parte.

É certo que com o somatório dos anos que aumentam o tempo da nossa vida nos vem mais à lembrança a pergunta: “Até quando é que poderei assistir a uma nova passagem de ano?”

A idade cresce. Mas porque vemos encolher, a pouco e pouco, os tempos em que ainda podemos estar neste mundo, sentimo-nos como que obrigados a reflectir sobre o que nos resta viver e também por tudo o que foi acontecendo ao longo dos anos que já passámos e não voltam mais.

O passado representa um bom motivo de reflexão. Dele sentimos saudades e também alguns remorsos que fazem recordar tantas situações que podiam ter sido melhor vividas por nós. Doem-nos. Sentimos que não fomos aquilo que devíamos ser, por preguiça, por soberba e por tantas outras razões que só encontram em nós algum motivo de sossego, quando recordamos que a bitola do perdão divino é generosíssima. Como Cristo observou a Pedro: o perdão deve estender-se até 70x7. Nós, cristãos, sabemos que Deus nos criou, nos ampara e sempre nos anima a fazer o que devemos, mesmo quando a obrigação requer da nossa parte um esforço redobrado.

Conhece-nos como ninguém. O seu sentido de responsabilidade, leva-O a ser misericordioso. Criou-nos para que com Ele convivamos na felicidade celestial. Sabe que esta realidade só pode ser por nós alcançada, quando, fundamentados na sua graça, procuremos viver de acordo com aquilo que o facto de termos sido criados à sua imagem e semelhança, se fundamente na caridade.

Como em nós encontra habitualmente muitas debilidades, o seu amor sobressai quando nos desculpa com a veemência de quem nos ama dum modo inexcedível. Daí o seu perdão vastíssimo, fruto, por um lado, de quem possui a omnisciência – capacidade de conhecer tudo com perfeição absoluta –, e da sua forma de viver a caridade, que é também total.

Temos a sorte de que o nosso criador seja Quem nos ame dum modo inigualável e tenha um sentido de responsabilidade integral, sobre o nosso destino, que Ele nos propôs ao criar-nos. Por isso, respeitando a nossa liberdade, convida-nos, em todas as situações, a seguir o caminho da rectidão. Percebe os nossos falhanços, ou, se quisermos, a nossa fraqueza que opta por proceder, com frequência, duma maneira que nada tem a ver com o que nos convida a sua orientação e a sua ajuda.

No fundo da nossa consciência, sentimos que o que fizemos não está bem. E pesa-nos por termos calcorreado rumos que podíamos ter evitado e que seguimos por fraqueza e leviandade. O perdão divino abre-nos de par em par as portas para recomeçarmos a caminhar na direcção do que é bom e justo. E ao pedirmos desculpa com arrependimento, sentimos o alívio de quem supera um obstáculo e de quem nos acolhe com um abraço cheio de paz, que nos volta a dar a verdadeira tranquilidade.

Deus é, de facto, o amigo verdadeiro, que sofre com os nossos desvios e se alegra quando reconhecemos os erros que cometemos voluntariamente.

Acabou-se mais um ano e está a começar um novo. Deus vela por todos os seres que criou e, decerto, lamenta que os homens, entre si, não se entendam e recorram a processos violentos para atingirem os seus objectivos. A guerra é um exemplo paradigmático. Que pode um cristão fazer? Decerto que, sozinho, nada consegue, salvo ficar triste e sobressaltado por tais situações continuarem a vingar. Há uma via muito eficaz, ainda que não entendamos todos os seus meandros e efeitos. A oração, que é uma forma de nos dirigimos a Quem mais nos ama e pedir-Lhe, com humildade, que a paz seja a verdadeira situação que reja as relações entre os seres humanos, criados, como atrás se assinalou, à imagem e semelhança de Deus.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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4 janeiro 2023