1- Raramente umas eleições autárquicas servem para aferir o peso dos partidos). Contudo, se o descalabro duma das partes for grande demais, é sempre difícil evitar extrapolações para o plano nacional. Porém, nas Autárquicas de 2017, os resultados do PS e PSD nem sequer foram muito diferentes dos que haviam sido há 4 anos: em 2013, sem contar com as coligações, o resultado fôra de 36%-16% (a favor do PS); e agora foi de 38%-16%.
2 – Contando com as coligações, o PS terá agora ganho por 39% contra 33% do PSD). Assim é, uma vez que o PS raramente concorreu coligado. Ao passo que foram numerosas as coligações do PSD com outros partidos, sobretudo com o CDS; mas também com o PPM e o MPT. Deste modo, o PSD de Passos Coelho (apesar da inépcia que revelou em Lisboa e Porto), sozinho mais as coligações em que de longe era o principal partido, obteve uns "honrosos" 33%, apenas menos 6% que o PS em iguais circunstâncias.
3 – O PS penetra no Baixo Alentejo e em Trás os Montes). As Autárquicas têm sempre algo de lotaria, uma vez que em certa medida são um concurso "de charme", de carisma, de popularidade de centenas de personagens locais, na sua relação apenas com os votantes locais. Os eleitores votam sobretudo nas pessoas, não tanto nos partidos. E desta vez calhou que o PS tenha "roubado" algumas câmaras em Vila Real e Bragança (ao PSD); e a sul do Tejo (sobretudo no distrito de Beja), ao PCP-PEV.
4 – Apesar de tudo, o sucesso "imaginário" do governo-Costa também contribuiu). Como diria Trump, as "fake news" (as notícias falsas, a propaganda mentirosa) a respeito do pseudo-mérito da actual governação do PS, cativou uma certa percentagem de indecisos para trocarem o PSD pelo PS. É que já ninguém se recorda dos incêndios do verão. Nem dos roubos de armas e explosivos ao nosso Exército. Nem sobretudo de que as nossas contas públicas beneficiaram imenso da triplicação das (já de si enormes) receitas anuais do turismo, em relação às de 2015.
5 – O PCP é que deve andar furioso...). Os espertinhos que gisaram a tática de transformar a derrota de Costa (e do PS) nas Nacionais de 2015 (32% contra 38% do PSD-CDS) numa retumbante "vitória", com direito, nada menos, a formar governo, com o apoio (ainda por cima, apenas parlamentar e intermitente) do PCP-PEV e Bloco de Esquerda, esses aprendizes de feiticeiro do PCP é que hão de andar agora por aí a roer as unhas... É certo que o Poder sabe bem, é muito melhor que passar a vida na oposição, a ver os adversários a decretarem as políticas que quem está na oposição detesta. E o PCP já não era governo desde 75-76. Porém, ao "colar-se" demasiado às políticas do PS, perdeu agora para o mesmo PS várias câmaras, sobretudo no emblemático Alentejo. É a prova de que, às vezes, "o crime não compensa"...
6 – Porém, com Cristas "o crime compensou"). A atitude da dra. Assunção Cristas, de avançar sozinha para a Câmara de Lisboa, sem "dar cavaco" ao habitual aliado PSD (sem sequer o consultar...), foi um "fait accompli", um facto consumado que nada enobrece (porque traiçoeiro) a carreira da azougada alvaiazerense, nascida em Angola. Já em 2015, quando foi da sucessão a P. Portas, a dra. Cristas também "rasteirou" Nuno Melo, Lobo Xavier (e Cecília Meireles), avançando com o beneplácito de certa parte do aparelho centrista que, lá para o Sul, por acaso também é algo, digamos, oriental e "ultramarino". A "facada" que Cristas deu em Passos Coelho é óbvia, uma vez que na maioria da geografia nacional, o CDS costuma ter bem menos de metade das votações do PSD. Devia ter a humildade e o respeito de consultar o PSD antes de avançar. Até porque fora ministra da Agricultura no governo de Passos (foi aliás com a assinatura dela, neste caso bem inculta e arrogante, que a criminosa barragem no Tua pôde avançar). E até porque também não seria difícil a um bom candidato (ela incluída) do campo PSD-CDS, derrotar o titubeante e "misplaced" dr. Medina, um tripeiro protegido do dr. Costa. Com os seus "triunfais" 19% em Lisboa, Cristas apenas ajudou (com a imagem que deu de zanga no campo conservador) a dar muito mais força a Medina e ao PS.
7 – Passos Coelho, desta vez, agiu tarde e não muito bem). O povo português anda muito desorientado. Ao ponto de "confundir o médico com a doença", a respeito da Austeridade que Passos Coelho foi obrigado a instaurar por ordens dos nossos credores (a "troika"). Foi contudo o PS de Sócrates que levou Portugal à pré-bancarrota e que assinou o acordo com a dita "troika". Boa parte do nosso povo ainda não assimilou bem o que se passou, nem percebeu quem foram "os bons e os maus desta fita". Porém, a demora de Passos, em Lisboa e Porto, no arranjar candidatos que se impusessem a Medina (PS) e ao dr. Rui Moreira (um independente antes apoiado no PS), essa demora foi determinante. Chegou a dar ideia de que tinha grandes "trunfos na manga", mas afinal não os tinha e apresentou-os já tarde. Álvaro Almeida (ex-FMI e economista), no Porto; e a deputada Teresa Leal Coelho, em Lisboa, eram individualidades pouco conhecidas dum eleitorado que devora é futebol e telenovelas. Após 6 anos no comando, Passos fará talvez bem em se demitir agora, uma vez que, sem ter culpa, a sua imagem continua injustamente em baixa. Pena que o dr. Montenegro não queira avançar agora. Um dia talvez seja a vez do igualmente combativo Hugo Soares ou do notável Marco Aurélio Costa. E Santana Lopes, será que finalmente irá regressar, para tirar desforra da reles desfeita que Sampaio lhe fez em 2004?
Autor: Eduardo Tomás Alves
Ambição de Cristas derrota PSD

DM
17 outubro 2017