Diz S. João Baptista, primo de Jesus: “Preparai os caminhos do Senhor e endireitai as suas veredas.” Sempre ouvi dizer e as poderosas e dominantes mentes eclesiásticas nos incutiram, nos campos verdejantes da nossa cultura, que Deus é, para o verdadeiro sentido da nossa existencial vida, “o alfa e o ómega”, isto é, Deus é o princípio e o fim de todo o comportamento do ser humano. Desoxidando, através da meditativa reflexão da mente, a inteligência impele-nos, em esperança e otimismo, a afirmar, agora, que o antecedente natural do sentido existencial da nossa vida, não é, propriamente, Deus, o Transcendente. É, isso sim, o nosso natural, universal e ôntico ser, criado por Ele, que, em alegria nos impele para Ele, no exercício das suas específicas dimensões de transcendentalidade, de autonomia, unicidade, liberdade e de relações. Vou evidenciar e seguir a prática do amor nas específicas dimensões do Seu ôntico e natural ser, como o verdadeiro e objetivo caminho para Deus.
O que é o amor? A anteceder a sua análise, vou-me espreguiçar, fugitivamente, mas com alegre otimismo e esperança, na sua genérica definição como sendo uma imparável e estonteante energia, sempre inacabada, concreta e afetiva, que une, realmente, o amante com o desejado amado. O amor é atração e afeto, como diz Enrique Rojas em “Tu, Quem és?”
Com fundamento na união da pessoa com todo o seu meio ambiente, vou, então, através da sua análise, especificar as estradas por onde seguem os níveis do nosso ansioso e carente amor. Vou entrar, incentivado pelas motivantes representações sensoriais, pela estrada dos sentidos e terminar o natural percurso na estrada transcendental. Esta estrada, sem os limites e os obstáculos das circunstâncias, dos condicionalismos e de todas as nossas estruturas bio psíquicas (emotivas, motivacionais, desejos, aspirações e preferências) entra no banquete de Deus, o amor transcendente, oferecido por Ele a toda a humanidade.
Após ter percorrido o caminho das agradáveis representações sensoriais, vou dar mais um passo e vou entrar, então, no caminho racional, cujo objetivo é ocupar-se do conhecimento tanto superficial como profundo (ciência e filosofia) das verdadeiras e afáveis razões do amor como atração e afeto.
Por fim, o último passo antes da entrada do amor na misericórdia de Deus, é o amor transcendental, cuja borbulhante fonte é o nosso natural e ôntico ser, tecido de espiritualidade corporizada, una, livre e relacional.
Ao interpretar o imperativo dogmático de S. João Baptista “Preparai o Caminho do senhor e endireitai as suas veredas”, apraz-me afirmar, que o verdadeiro e radical caminho do Senhor, é o da contemplação, da oração e da prática do amor transcendental, que brota, espontaneamente, das relações imanentes do ôntico ser humano, com toda a criatura, no abundante e apetitoso banquete com Deus.
As veredas que a pessoa tem de endireitar, através das superações da dor, de acordo e em congruência com todas as relações, unas e transcendentais, são as veredas da existencialidade (conhecimento, afetos, motivações e emoções) que decretam as suas ruturas com o natural e ôntico ser humano. As veredas são, segundo Luciano Masi em “Os Dez Mandamentos”, os ídolos competitivos com o amor de Deus. Segundo o Papa Francisco, em Laboratório da Fé, as veredas são os corruptos mundanismos espirituais. Outros, não explicitando, cognominam-nos de vampiros, os sugadores para a satisfação dos seus subjetivos interesses, desejos e aspirações, tais favos de mel. São as pessoas, tomadas por objetos, pelos fortes e dominantes, cumpridores da sua enganosa missão. As veredas são os caminhos de “quem não começou por ser verdadeiramente homem”(no dizer do distinto jornalista Dr. Silva Araújo, quando afirma que “quem não começar por ser verdadeiramente homem, não será um verdadeiro cristão)”.
Autor: Benjamim Araújo
Ajustamentos Nº 289 - Amor, o verdadeiro caminho do Senhor
DM
6 dezembro 2017