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Aborto e eutanásia

E se o juramento de Hipócrates que os médicos fazem no final do seu curso é em defesa da vida e não da morte, perante esta triste evidência algo está errado: ou o juramento é falso ou não tem já razão de ser; ou, então, a política e os partidos metem-se em assuntos para os quais não são, nem devem ser chamados. 

Todavia, uma vez que se aproxima a discussão no Parlamento sobra a eutanásia, é com esta que nos devemos, agora, preocupar; e, lembrar aos deputados que, se o não fizeram aquando da legalização do aborto, devem neste caso promover um amplo debate nacional e, de seguida, consultar, em referendo, a vontade popular; porque é um assunto demasiado sério e basilar para ser tratado e aprovado nas costas do povo. 

Sabemos que os avanços da ciência têm como objetivo a busca da imortalidade e nunca da mortalidade; e, por isso, preocupa-me que a medicina, não tendo certezas absolutas, embora frequentemente pareça ter, sobre o momento em que a morte acontece, falhe quando diz que o paciente tem dois ou três meses de vida e ele acaba por ter muitos meses e, até muitos anos. 

Ora, aplicada a eutanásia a estes casos, é mais do que evidente a tragédia daí resultante: mata-se um ser humano que tinha ainda muita vida pela frente e, com certeza, mais para o bem do que para o mal; e, no fundo, isto significa que as fronteiras da vida não podem ser criadas pela medicina e, muito menos, definidas pelo homem. 

Ademais, em circunstâncias ideológicas ou sociais, a eutanásia pode ser usada pelos tiranos (lembremo-nos de Hitler, Mussolini, Estaline e tantos outros que ainda hoje o fazem) para eliminar vidas incómodas ou prejudiciais aos seus intentos; por exemplo, as pessoas idosas ou deficientes que não produzem e só gastam do que os outros produzem, eliminá-las pode ser a tal solução final benfazeja para tais mentecaptos. 

Pois bem, o importante é não banalizarmos a vida, seja através do hedonismo e do materialismo, seja do individualismo e do relativismo, valores reinantes nas sociedades modernas; mas, sim, continuarmos a acreditar que a vida é o mais precioso dom que temos e devemos defender, como seres humanos e racionais que somos, até ao seu limite máximo. 

O Papa João Paulo II quis na sua agonia mostrar isso mesmo: que a vida não tem limite nem preço feitos pelo homem; mas, pelo seu Criador, Deus; e carregar a cruz da vida até ao fim, gemendo e chorando, se necessário, é uma condição humana e transitória. 

Deixo, agora à reflexão dos meus bons leitores um caso de que pessoalmente tive conhecimento: Na guerra de África, um militar sofreu graves ferimentos em combate; e, evacuado de helicóptero para o hospital, aí chegado foi considerado cadáver pelos médicos que lhe assistiram e, nas circunstâncias levado para uma câmara frigorífica a aguardar ordens de envio para a metrópole e consequente entrega à família. 

Passados dois dias, um furriel enfermeiro foi à câmara frigorífica para recolher o cadáver e abrindo-a, ao ver o militar de olhos arregalados e a mexer-se, grita num alvoroço: 

– Meu alferes, meu alferes, este soldado está vivo! 

E efetivamente estava tão vivo que ainda, hoje, anda por aí como se nada tivesse acontecido. 

Comentários, para quê? 

Então, até de hoje a oito.

 

Autor: Dinis Salgado
DM

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1 fevereiro 2017