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A propósito do mês de Maio, mês de Maria

O mês que se iniciou há poucos dias está dedicado a Nossa Senhora. É o mês de Maria, assim considerado de forma, digamos, “oficial”, pela Igreja, desde o século XVII, embora com bastantes antecedentes nos costumes do povo cristão e da própria liturgia.

É um reconhecimento do papel da Mãe de Deus e nossa Mãe no plano salvífico que Cristo veio trazer-nos com a Redenção. Maria como que torna a nossa relação com a Trindade mais familiar, porque Jesus, no Calvário, pede-lhe para assumir a maternidade de todos os homens.

E quando, mais tarde, a eleva ao Céu em corpo e alma, mostra-lhes que, aí, existe uma família semelhante à que todos temos na terra: há um Pai, a Quem nos dirigimos sempre que rezamos a oração ensinada pelo próprio Jesus – o Pai-nosso –, um Irmão, Ele mesmo, o nosso maior Amigo, que deu a sua Vida para nos redimir, e a realidade essencial duma família, o Amor, personificado no Espírito Santo.

Mas ainda há mais: há uma Mãe, Maria Santíssima, que não é, obviamente, de natureza divina, mas que aproxima o homem de Deus e Deus (de quem é Mãe também) do homem dum modo familiar, com o seu amor maternal.

Que Deus e o homem possam chamar Mãe à mesma pessoa, esbate de maneira positiva as diferenças de natureza que são reais, adequadas e indiscutíveis, entre Quem é Criador e quem é criatura.

Ao querer ter uma Mãe humana, Deus manifesta uma grande confiança na nossa natureza e dignifica-a de forma muito íntima, tornando-se voluntariamente ainda mais membro da nossa família, de Quem já o era, com a Encarnação de Cristo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Não estranhemos, pois, que a Igreja dedique um mês completo à veneração mais intensa da Virgem Santíssima. Curiosamente, é no seu mês, que Maria desce a Fátima e fala com simplicidade a três crianças, deixando uma mensagem forte de penitência e oração, convidando todos os homens, seus filhos, a seguir os caminhos divinos e não os que nós construímos apenas com a nossa restrita capacidade de inteligência, vontade e afectividade, pois reflectem inevitavelmente todas as limitações e também a imperfeição que não podemos evitar.

Os horizontes que Deus nos propõe podem não ser, numa primeira instância, os mais atraentes. No entanto, o que Deus pede tem necessariamente a marca da perfeição divina, que é absoluta.

Além disso, nasce como fruto do seu Amor misericordioso, que não pode desejar ao homem senão o seu maior bem. Por isso, não há o menor indício de sadismo ou de desajuste quando Nossa Senhora nos anima a ter uma vida que não descure a penitência pelas nossas faltas, a rectificação por tudo o que não fazemos bem e podíamos ter feito e o desagravo pelas nossas fraquezas ou comportamentos incorrectos.

Deus – e a sua e nossa Mãe, portadora dos desígnios divinos – em Fátima e sempre que fala aos seus filhos, lembra-lhes, clara e objectivamente, que o maior bem do homem não reside nesta vida e neste mundo.

Recordar-nos-á o que lemos na Epístola aos Hebreus “Aqui não temos morada permanente”. (Heb 13, 15), acrescentando em seguida que o nosso maior bem reside na felicidade eterna – no Céu – para o qual fomos especificamente criados por Deus. Perder esta perspectiva é cegar horizontes, viver um logro absurdo.

Pode, numa ou noutra circunstância, afigurar-se dura ou impossível de cumprir a vontade divina a nosso respeito. Se somos humildes e acorremos ao auxílio da nossa Mãe, entenderemos na perfeição a justeza de uma máxima de S. Paulo: “Ninguém é tentado acima das suas próprias forças!” (1 Cor, 10,13).

Maria está atenta como só ela o sabe às necessidades de todos nós. Não é, porém, uma “mãe galinha”, que, por zelo proteccionista excessivo, torna a vontade dos seus filhos num farrapo inútil, mas uma boa Mãe que nos educa e nos incita a fazer aquilo que está ao nosso alcance, com a ajuda da graça de Deus e a sua proteção carinhosa e cheia de amor.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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5 maio 2018