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A propósito do Carnaval

Hoje, mais do que comer ou não carne, a disciplina penitencial da Igreja recomenda que nas sextas-feiras da Quaresma se faça uma refeição simples e pobre.

Outros colocam a procedência do vocábulo carnaval em currus navalis, da festa de Isidis Navigium que os Romanos da época imperial celebravam em 05 de março de cada ano. Incluía uma procissão onde intervinham pessoas mascaradas e um barco transportado num carro, o currus navalis.

Há ainda quem pense que o vocábulo carnaval deriva do italiano carnelevare que, por sua vez, derivará do étimo baixo-latino carnelevarium. Ter-se-á dado uma modificação ou substituição mecânica provavelmente por nivelação com carnavale.

Na Península Ibérica o missal moçárabe fala em Dominicam ante carnes tollendas.
Nos séculos XIII e XIV usava-se muito a expressão carnestollendas, mas havia uma outra mais simples e sem qualquer composição: carnal em oposição a Quaresma. Antes da Quaresma há um período em que se pode comer carne: carnal; um período em que há de deixar-se a carne: carnestollendas; um período no qual a carne se deixou: carnestoltes.

Também se dá ao Carnaval o nome de Entrudo, que provém do vocábulo latino introitus, isto é: entrada na Quaresma.
 
2. Apresentam-se igualmente diversas hipóteses relativamente à origem dos festejos carnavalescos. Há quem a coloque nas Saturnais (Saturnalia), nas Lupercais (Lupercalia) ou nas Matronais (Matronalia), celebradas pelos Romanos; ou nas Dionísias (Dionysia), celebradas pelos Gregos.

As Saturnais, festas do solstício do inverno, iam de 17 a 23 de dezembro. Durante este período os escravos eram deixados em liberdade. As pessoas faziam máscaras e disfarces, tomando, por vezes, a gente nobre o traje vil dos escravos, que, nesses dias, não reconheciam o senhor.

Celebravam-se as Lupercais em 15 de fevereiro, na cova Lupercal, no Palatino. Os lupercos corriam, meio desnudos (apenas cobriam, ligeiramente, a cintura), açoitando, com tiras de peles de cabrito, quantos encontravam.

Celebradas no primeiro de março, as Matronais eram as festas das mulheres casadas, as matronas. Para as escravas tinham significado idêntico ao das Saturnais para os escravos: dia de liberdade e de festa.
As Dionísias eram festas de orgia e embriaguez.

3. Hoje, o Carnaval inclui os três dias que precedem a Quarta-Feira de Cinzas. Mas nem sempre foi assim.
As datas apontadas para o seu início não eram as mesmas em todas as localidades. Numas principiava no dia de Natal; noutras, no primeiro dia do ano, no dia de Reis, no dia de Santo Antão (desde o Santo Antão, más-caras são), no dia da Candelária, no dia de S. Brás, quinze dias antes do Carnaval, no domingo da Quinquagésima (chamado domingo gordo). Há localidades em que se limita ao dia que precede a Quarta-Feira de Cinzas.

4. No Brasil os festejos de Carnaval remontam a 1641. Foram realizados para comemorar a restauração da monarquia em Portugal.
O primeiro desfile de carros alegóricos fez-se em 1854, altura em que se fundou o primeiro clube de foliões: «tenentes do diabo».

A partir de 1867 o Carnaval brasileiro adquiriu caraterísticas que ainda hoje mantém, como a realização de concursos de máscaras e disfarces e a competição de conjuntos musicais.
As máscaras têm uma origem pagã, baseada no culto dos mortos. Pensava-se que uma forma de esconjurar os espíritos maus era antropomorfizá-los. Quem personificava os espíritos vestia-se de branco e cobria o rosto com uma máscara.
 
5. Relacionado com a Quaresma, o Carnaval diverge totalmente do espírito quaresmal. Ao longo dos séculos tem-se caraterizado por excessos de vária ordem, de onde, na generalidade, o espírito cristão e, às vezes, até o bom senso, estão ausentes.
Há diversas formas de se divertir, de confraternizar, de exteriorizar a alegria. A alegria não é incompatível com o respeito por si e pelos outros, mas, infelizmente, nem todos pensam assim.



Autor: Silva Araújo
DM

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23 fevereiro 2017