Tal como os dias que vivemos, arrisco começar a minha habitual interação com os estimados leitores de uma forma diferente. Faço-o com um poema que retrata a Páscoa deste ano, no contexto da pandemia que nos assola. Um formato distinto dos habituais na tentativa de ser mais apelativo à meditação neste tempo pascal e de emergência universal.
Uma emergência decorrente da expansão de um vírus altamente contagioso, capaz de causar doença grave, que já provocou milhares de óbitos em todo o mundo, que quase paralisou as sociedades nas suas diferentes vertentes e onde a economia é motivo de maior preocupação.
Um microrganismo até há pouco ignorado, aparecido nas terras longínquas da China, onde começou a fazer as suas primeiras vítimas e que rapidamente se espalhou por distintas latitudes, causando uma pandemia a nível global. Uma pandemia que o Homem não conseguiu evitar usando todo o conhecimento e os avanços tecnológicos alcançados. Um martírio que não se confina a raças, religiões ou classes socias. Um flagelo que não poupa ninguém.
Uma verdadeira catástrofe que atingiu a maioria dos povos e que nos deve fazer meditar quão pequenos somos na imensidão do universo.
Uma devastação que nos deixa confinados à nossa pequenez no reino da Criação e para a qual não devemos deixar de dirigir o nosso pensamento.
Encaminhar a nossa reflexão na busca dos porquês, das possíveis explicações e nas muitas interrogações que certamente ficarão sem resposta.
Um recolhimento introspetivo sobre a ação do Homem no nosso planeta, tão destruído pelo seu egoísmo, pela sua ambição, pela sua exploração desenfreada e pelas contantes agressões ao ambiente.
Uma relevante lição para cada ser humano, para quem tem a responsabilidade do poder e, sobretudo, para os mais poderosos deste mundo.
Uma enorme advertência para os caminhos que a Humanidade tem seguido na ânsia de tudo ser capaz, na insaciável vontade do ser e do ter, sem olhar a meios e, tantas vezes, sem o mínimo respeito pelos preceitos éticos que devem presidir à conservação da natureza.
Um desafio gigante para toda a Humanidade, quando sobre os escombros desta hecatombe tiver o dever de acudir aos despojados desta doença, de reorganizar a economia e, principalmente, de construir novos modelos de vida em sociedade, corrigindo os erros de um passado bem presente.
Este deverá ser o rumo a percorrer! Acho que não pode haver outro caminho!
Uma nova orientação que contemple a preservação do nosso planeta, baseada na erradicação da fome e da guerra, na construção da paz duradoura e no profundo respeito pelos valores e princípios da mãe-natureza.
Admito a intrínseca bondade do ser humano. Os recentes exemplos de solidariedade vistos um pouco por todo o lado corroboram este postulado.
Não é verdade que no auge deste mortífero desastre tem havido imensa gente que dá muito de si sem olhar a quem?
Não é verdade que neste contexto de catástrofe tem havido imensa gente que, por amor ao próximo e sem contrapartidas, deixa as suas vidas para inovar, fabricar e socorrer quem mais precisa?
Com muita esperança mas sem grandes ilusões, acredito que não pode haver outro caminho.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira