O mundo ao longo dos séculos tem-se debatido com diversos problemas, originados por guerras, ideologias ou doutrinas impostas por ditaduras ou regimes pseudo democratizados, como é o caso atual da Hungria, e outros de natureza étnica, tendo em vista redefinir os seus territórios, principalmente em África, donde têm resultado profundas transformações e instabilidade política.
Portugal foi afetado nas últimas décadas pelas crises económicas de 1973-74, ligada ao setor petrolífero, a de 1994-2000, resultante da bolha especulativa das ações das novas empresas de tecnologia da informação e das novas comunicações, e a de 2008 da dívida soberana, tendo esta originado a intervenção da Troika, com a retoma económica a partir de 2015. Todas estas foram vencidas com persistência e dando lugar, principalmente a última, a uma austeridade que afetou o comércio, a indústria e os cidadãos, com incidências de impostos e falta de investimento público e inicialmente privado.
A pandemia que o mundo agora atravessa vai afetar profundamente a economia portuguesa, assim como vai ter impactos diversos ao nível da economia mundial. A sua extensão, dimensão e incidência é imprevisível nos países intercontinentais e vai trazer consequências de grande abrangência, com rupturas produtivas e económicas, principalmente nos países mais vulneráveis e com economias emergentes e vai permitir um maior desenvolvimento económico do país de onde brotou e partiu esta pandemia.
A China já é a segunda maior economia mundial, a segunda maior economia comercial, a maior economia industrial, a maior poupadora e a maior contribuidora para as emissões de gás de efeitos de estufa.
A China poderá tornar-se na primeira economia mundial face à evolução desta pandemia na Europa e na América do Norte e é de manter reservas quanto à sua evolução e contenção, assim como quanto aos dados estatísticos, transmitidos ao resto do mundo.
É possível que este país venha a ultrapassar os Estados Unidos, atual potência de domínio mundial e de ideologia política neoliberal, onde a riqueza se concentra em 1% da população e com um serviço de saúde deficiente de apoio à maioria da população e onde há grande flexibilidade no emprego, caminhando já para um desemprego muito acelerado. Esta situação pode provocar ainda uma maior desigualdade, embora este país fosse considerado um exemplo pioneiro de democracia, a qual se veio a reverter, principalmente a partir de 2000. Como se sabe, ao longo da história, as economias que floresceram foram aquelas onde a palavra de um homem é a sua honra, onde o aperto de mão é um contrato.
Afirmava já em 1960 Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001: “Que o dinheiro não compra a felicidade; que o que importa é dedicarmo-nos aos outros e à nossa vida mental; apercebi-me de que a economia era muito mais do que o estudo do dinheiro – era na verdade, uma forma de pesquisa capaz de abordar as causas fundamentais de desigualdade”.
A Comunidade Económica Europeia (CEE) começou a constituir-se a partir de 1957, tendo sido Jean Monnet e Robert Schuman os principais obreiros para a fundação da União Europeia, criada oficialmente em 1993, a qual teve como primeiro Presidente e grande estadista Jacques Delors, que lhe imprimiu um espírito de unidade, coesão, solidariedade e sentido de abrangência transversal a outros países europeus.
O primeiro-ministro Mário Soares conseguiu a adesão de Portugal à CEE em 1986, tendo sido Durão Barroso eleito o 12º Presidente da Comissão Europeia.
A visão de solidariedade e de trabalho para um todo foi notável e cresceu até aos nossos dias, apesar de há anos atrás alguns países começarem a pensar só em si e muitas decisões tendessem para a desunião dentro da União Europeia, o que não se tem verificado no Conselho Europeu, independentemente dos partidos maioritários, embora seja de prever o agravamento do eurocetismo devido à falta de solidariedade e de respostas adequadas da União Europeia, assim como o populismo e o extremismo podem acentuar-se, caso os governos dos Estados membros falharem.
Face à atual pandemia têm-se verificado divergências entre os países do sul e do norte da Europa, de que é exemplo o Brexit, e mais recentemente a posição tomada pela Holanda. Vão surgir complexos problemas económico-financeiros em alguns países, devido ao elevado desemprego que aí se vai verificar e à ruptura financeira, em que a dívida, em alguns destes, já é elevada, caso a União Europeia não assuma a dívida solidária e estes tenham de recorrer a mais empréstimos.
Exige-se um programa bem planeado e forte das entidades europeias, capaz de assegurar a proteção das empresas e dos postos de trabalho e, consequentemente, dos rendimentos das famílias, evitando uma escalada de falências e de desemprego e uma grande recessão.
Mais do que nunca, a União Europeia, criada com visão para salvaguardar e desenvolver uma economia pioneira e secular, em solidariedade, partindo progressivamente para a aglutinação de países, com culturas e economias diferentes, onde houve figuras incontornáveis na sua liderança, tem que estar à altura para enfrentar as consequências desta pandemia, mostrando a razão da sua fundação, em união, coesão e solidariedade.
Autor: Bernardo Reis