No entanto, a euforia, que acontece neste género de eventos, bem como em vários outros, quando o raciocínio não funciona adequadamente, degenera em desacatos e noutros excessos comportamentais. Mas o que é mais grave é que tais atitudes desviantes e tais desmandos são tidos como normais, como os próprios estudantes o afirmaram.
Acresce ainda que muitos dos seus pais e vários dos agentes promotores desses feitos sociais vieram a público em defesa dos autores de tais façanhas. Infelizmente, até responsáveis educativos passaram ao lado dos acontecimentos, quando, noutros casos similares, por interesses políticos, são rapidamente zelosos a tomar medidas que dizem ser adequadas.
Segundo os referidos alunos, quebrar vidros dos carros e das instalações é uma coisa normal; lançar colchões pelos elevadores é um ato normal; empilhar e quebrar cadeiras é uma postura normal; andar nus pelos corredores e por outros locais é uma cena normal; espalhar copos e comida por todos os lados é um feito normal; andar bêbados 24 horas sobre 24 horas é uma atitude normal; colocar televisores nas banheiras, arrancar extintores e espalhá-los por locais indevidos é uma ação normal;
perturbar o sossego e o descanso dos moradores vizinhos do hotel é um porte normal; gravar mensagens e vídeos nas redes sociais em defesa de todos estes comportamentos selváticos é um feito normal. Tudo isto, muitas vezes, foi e é visto, ouvido e lido nalguns meios de comunicação social sem o menor pejo. É lógico que a culpa não é apenas dos jovens e dos pais. Todas estas irreverências e desacatos passaram a não ser nada de especial que viole a moral pública, segundo os próprios também afirmaram nas suas intervenções em vários programas televisivos.
Nem sequer faltou uma referência comparativa irónica ao ambiente que se vive em Fátima. São também elucidativos os cânticos entoados ultimamente pelas claques do futebol que atingiram o nível do execrável. Ao que chegou a sociedade atual! Temos que ir ao fundo das coisas para explicar esta cultura alheia à dignidade humana. É necessário ir à base da filosofia educativa que suporta toda esta situação degradante das sociedades atuais. Os sistemas educativos estão eivados de propostas de modelos materialistas, de falsas éticas, de laicismos radicais e de neutralidades confessionais ilusórias.
Estas atitudes refletem o ambiente social que reina nas sociedades modernas. A corrupção é geral, a grosseria coloquial entre as pessoas impera, os insultos nas intervenções parlamentares são constantes, a ironia e o incivismo reinam nas relações humanas. As perseguições no local de trabalho, bem como muitas situações de injustiça nos concursos públicos passaram a ser uma normalidade.
Enquanto os sistemas educativos propiciarem aos homens culturas que têm como base estas filosofias de vida, nunca mais haverá restauração nem implementação das tão apregoadas sociedades plurais, justas, democráticas e igualitárias. O utopismo continuará longe dos horizontes sociais.
A casta dos privilegiados persistirá a dominar muitas comunidades, enquanto o grosso do povo lá vai vivendo alegremente na labuta pela sobrevivência, sempre à espera que surjam as tão badaladas promessas eleitorais de melhoria das suas condições de vida.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes