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A mascarada das máscaras

O ministério e a direção-geral da saúde andaram a brincar connosco no que diz respeito ao uso das máscaras durante este período de pandemia. Disseram perentoriamente que o uso da máscara não só não era preciso como se tornaria prejudicial. E disseram isto com uma veemência que converteria qualquer pecador. E nós, os eternos últimos a saber, acreditamos. Um senhor médico reiterava esta posição com a mesma força de convicção. E nós acreditamos, como crentes que somos, nas certezas dos senhores doutores. Era, diziam os responsáveis, orientações dimanadas da OMS (organização mundial de saúde). E nós acreditamos. Depois começaram a surgir dúvidas ao verificarmos que nos países onde o uso de máscaras foi obrigatório, o vírus alastrava com menor violência e era mais fácil determinar os focos infeciosos. Perante os factos, e já agora com mais máscaras, o ministério da saúde, pela voz da senhora ministra Marta Temido e pela contrita voz da senhora diretora-geral da saúde, Graça Freitas, foram dizendo, “ bem, usem lá isso… mas… não descurem os restantes cuidados”. Isto como quem deseja sair airosamente duma grande embrulhada. Como sói dizer-se, não queriam perder a face. Aquele senhor doutor que recomendava para não usar as máscaras, desapareceu dos ecrãs televisivos; foi pena, porque gostávamos de ver com que cara dava o dito por não dito. A intenção era guardá-las para os médicos e enfermeiros. Ninguém contesta, como se aplaude a prioridade. O que se contesta é a falsidade do propósito. Falem verdade que nós entendemos. Como vão aparecendo máscaras de várias procedências, nacionais ou compradas no estrangeiro que vão cobrindo as primeiras necessidades, então o governo já recomenda, ainda que em tom sumido, o uso de máscara como um dever social. Andaram a jogar ao esconde-esconde e agora pergunto: onde mora aquela transparência apregoada pelo senhor presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, quando disse a todo o país que os portugueses seriam informados de toda a verdade sobre esta pandemia? Não seriam estas as palavras do sr.Presidente, mas foi este o sentido das mesmas que eu gravei na minha memória enfraquecida. Na verdade deve ser o Sr. Presidente a perguntar-lhes por essa transparência porque me parece andar tão diáfana que não dá sequer para encobrir a silhueta, quanto mais a figura da verdade. Porque foi a V.ª. Exª que eles falharam, por isso compete ao Senhor Presidente pedir-lhes responsabilidades e justificações; através de Vª. Exª também mentiram a todos os portugueses. Se nos dissessem a verdade: olhem, não há máscaras para todos, mas logo que as tenhamos, todos os portugueses serão obrigados a usá-las em público. Os portugueses, como muito bem sabe, compreenderíamos a situação, nas mesmas proporções com que respeitaram o confinamento do estado de emergência. A saúde é um bem tão-maior que não pode servir de sofisma político de ninguém. As senhoras ministra e diretora-geral da saúde, não agiram sem consentimento político; não tinham competência para tanto. Basta ver as caras das senhoras para se perceber como elas estão numa situação periclitante. Mas minhas senhoras, quando chegar a hora de partir a loiça é fácil perceber quem ficará em cacos.


Autor: Paulo Fafe
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20 abril 2020