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A Gália, desde Asterix até Castex

  1. A “pauvre France”…). A França é uma espécie de fértil e atractiva encruzilhada que fica no centro da Europa. E se há país europeu “para as costas do qual” historicamente tenham alternadamente “querido saltar” uma colecção mais completa de vizinhos, esse país deve ser a França. E com frequência esses vizinhos têm-no feito com sucesso. E às vezes por longos períodos, os quais foram deixando as suas marcas. Por isso, aqueles que, como eu, gostam da França (e do núcleo histórico e maioritário da sua população, os Franceses, os descendentes dos antigos Gauleses), esses devem sem hesitação dar preferência, nos tempos extraordinariamente difíceis que a França hoje atravessa como Nação, ao partido patriótico dirigido por Marine Le Pen; de seu nome, o Rassemblement National (RN). “Douce France, beau pays de mon enfance”, é uma canção do tempo dos meus pais, que cantava Charles Trenet e que em pequeno eu ouvia no leitor de cassetes da auto-caravana, atravessando aquelas belas estradas rurais ladeadas por árvores. “Douce France”; hoje, “pauvre France”…
  2. O drama nacional e identitário da França actual). Povo generoso mas tendencialmente individualista e liberal, os Franceses desde há muito se habituaram a acolher no seu seio vários tipos de imigrantes: uns, económicos; outros, fugidos a perseguições em países terceiros. Porém, nas últimas 4 ou 5 décadas prevaleceu uma vasta imigração organizada, de pessoas que nada tinham a ver com a França nem com os Franceses “históricos”. A não ser, em muitos casos, serem nacionais de recém-criados países africanos (no Magrebe ou na África a sul do Sahara), que haviam sido efémeras colónias da França imperial. Digo “efémeras”, porque apenas foram colónias da França por escassas e ridículas décadas: desde finais do séc. XIX até ao início dos anos 60 do séc. XX. E se o papel colonizador e civilizador da França podia fazer sentido na vasta e necessitada África (negra) Ocidental, já o mesmo era um absurdo no que respeitava a Marrocos ou à Argélia. Onde populações muito mais evoluídas, civilizadas, densas, organizadas e religiosamente enquadradas (para mais, habitando inacessíveis territórios montanhosos!) seriam com o tempo impossíveis de dominar. E foi sobretudo para a Argélia que uma sucessão de maus governos franceses (em que dominava a Maçonaria) canalizou pateticamente o esforço colonial francês no início do séc. XX. A cruenta guerra de independência da Argélia, em que insistiu o outrossim muito respeitável presidente De Gaulle (1890-1970) foi o último esforço colonial francês. A derrota de Paris originou uma onda de refugiados magrebinos colaboracionistas. A qual não tardou a engrossar exponencialmente (vários milhões) com a vaga seguinte, a dos pretensos “refugiados económicos”. Além dos 400 mil judeus que viviam no Magrebe. Os norte-africanos islâmicos, apesar do sucesso de Marrocos e Argélia como estados, nunca mais quiseram regressar às suas pátrias norte-africanas. E abusivamente fingem passar a considerar a Europa (e a França) como sua absurda “pátria”. Originando fortes tensões etno-culturais e religiosas irresolúveis.
  3. Resumo da história de França). Milhares de anos antes do início das civilizações no Egipto, Mesopotâmia e Índia, já os antepassados (em parte, neandertalianos…) dos actuais franceses e espanhóis do norte, revelavam os seus dotes intelectuais, ao pintar nas grutas de Lascaux, Altamira e outras. Será a cultura céltica que cimentará, no 1º milénio a. C. , a identidade europeia, com centro na Gália, mas expansão para a Grã-Bretanha, Ibéria, Alpes e Alemanha do sudoeste. Esta civilização será em grande parte destruída pelo Império Romano, conquistada em 7 anos pelo incansável Júlio César (meio milhão de mortos?). Prisioneiro em Alésia, o jovem e muito dotado líder dos gauleses, Vercingetórix, é levado para Roma e estrangulado 2 anos depois. O imperador Tibério (sucessor de Augusto) leva a cabo o assassinato da classe sacerdotal gaulesa (os druidas), que são eliminados aos milhares. Culturalmente (mas não etnicamente), a nação céltica da Gália vai sendo com sucesso assimilada pela cultura italo-romana, tal como aconteceu na Ibéria. Estas partes da Europa deixam de falar céltico (ou ainda, basco) para falar uma das muitas línguas italianas, o latim. A italianização é reforçada pela conversão, à nova religião (de origem judaica) à qual os italianos se convertem (e passam a controlar). Roma cai, na 1ª metade do séc. V d. C., com as invasões germânicas. A Gália passa a chamar-se França (o reino dos Francos, germânicos), que expulsam os Godos para Espanha e Itália. Mas que não conseguem absorver a Borgonha (leste da Gália, Bélgica e Suíça), que ficará por séculos ligada ao Império cristão com sede na Alemanha. Os filhos de Carlos Magno vão perpetuar a divisão. Em 732 é detida em Poitiers a conquista marroquina da França. No norte (Normandia) os víquingues criam um ducado, donde em 1066 partirá a conquista da Inglaterra. Nos belicosos sécs. seguintes, são os ingleses que têm cada vez mais terras na França. Libertada da ameaça de Londres e da Borgonha, a França no séc. XVI é vítima das guerras de religião (contra os Protestantes). O triunfo católico é cimentado com Francisco I, Mazarino, Richelieu e Luís XIV, o qual faz guerra à Europa durante 50 anos. No séc. XVIII, é derrotado o esforço colonial da França na América do Norte. Vem a Revolução republicana (1789) à qual se segue a ditadura de Napoleão, só derrotado em 1815. Amargas derrotas contra Bismarck (1870) e Hitler (1940); e a custosa “vitória” contra Guilherme II (1918) não impedirão que as sociedades secretas continuem contudo a controlar a França até aos dias de hoje.

Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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21 julho 2020