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A curiosidade como motivação

A curiosidade, quer como sentimento, quer como um princípio do conhecimento, pode então preexistir como algo inato no ser humano, devendo ser exercitada em direção à aquisição de conteúdos que possam enriquecer os horizontes da razão humana. 

De facto, a organização neurológica (estrutura física do cérebro, isto é, o seu disco rígido) possui um papel fundamental no desenvolvimento da criança. No entanto, tem que ser regulada pela razão. Caso contrário, cai-se numa postura e numa ideologia educacional meramente mecanicista do ser humano que vê a criança como uma matéria-prima sobre a qual se trabalha para a transformar naquilo que se quer que seja.

Segundo esta teoria tudo é programável. Os educadores mecanicistas empenham-se em bombardear as crianças com estímulos externos, para desenhar os seus circuitos neuronais com o objetivo de conseguir a criança à la carte, tanto do ponto de vista do seu comportamento, como do ponto de vista cognitivo. Acreditam que o ser humano depende completamente do ambiente para aprender. Nada mais errado e até anti-humano. 

A criança não é uma mera máquina. Os próprios defensores desta teoria entram em contradição, uma vez que aquilo que eles fazem sai de esfera do puro mecanicismo. Aliás, o próprio avanço da neurociência e da pedagogia leva a concluir que o motor da criança vai muito para além da simples organização neurológica. A origem  da evolução do ser humano é algo de intangível ou de imaterial. O homem é eminentemente um ser racional, livre  perfectível e responsável.

Já os gregos diziam que o princípio da filosofia era a curiosidade, a primeira manifestação daquilo que é intangível e move o ser humano: o desejo de conhecimento. Platão não se cansava de falar no espanto como o móvel da procura do saber. Milhares de anos depois, uma das mais reconhecidas pedagogas de todos os tempos, Maria Montessori, enfatizou a importância da curiosidade na aprendizagem na criança. Nos últimos anos, a neurociência confirmou o pensamento de Montessori, questionando muitos dos paradigmas educacionais mecanicistas.

Dizia G. K. Chesterton que “para as crianças, todas as coisas do mundo são feitas de novo e o Universo é posto de novo à prova”. A capacidade que as crianças possuem para pensar em coisas impossíveis é maravilhosa. 

Muitas vezes, as crianças, nos primeiros anos de idade, sobretudo aos três, quatro e cinco anos, parecem que fazem perguntas disparatadas ou ilógicas. No entanto, essas questões têm muita razão de ser. 

As crianças não querem mudar a ordem estabelecida das coisas. É a maneira que têm de se admirarem diante de uma realidade que é como é, mas que poderia não ter sido assim. Esta é a explicação para a pergunta que o José, de quatro anos, fez à mãe: “mãe, por que não chove para cima?” Porém, para que a curiosidade funcione bem, a criança deve estar num ambiente que a respeite como um ser humano em todas as suas dimensões.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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27 abril 2017