Inicialmente, os conteúdos ficaram a cargo das duas referidas instituições (SMS e UM), cujos responsáveis anunciaram publicamente o que pretendiam para a Casa da Memória: “um ponto de encontro da história e tradição com a inovação e criatividade”; “um local onde se contarão as histórias públicas e privadas de Guimarães e dos vimaranenses, através de quadros mapas, imagens, sons ou artefactos”;
a Casa da Memória seria “a construção dos e para os vimaranenses e iria disponibilizar um arquivo sobre as histórias de vida da comunidade vimaranense dando visibilidade a pessoas marcantes na identidade da e na projeção regional e nacional” (cf. Comércio de Guimarães e Notícias de Guimarães).
Foi então anunciado que para a concretização do programa de trabalho, a SMS reunia uma equipa, composta por 35 elementos, que aliava o profundo conhecimento e experiência na realização de estudos e produção bibliográfica sobre a História e Cultura de Guimarães, com uma incontornável competência técnica, científica e criativa”. Desconhece-se qual o contributo desta equipa na elaboração dos conteúdos da atual Casa da Memória, bem como a razão pela qual não prosseguiu o seu trabalho até final. De todo o modo, é de reconhecer e registar o contributo inicial dado por ambas as instituições (SMS e UM).
Nas redes sociais, a Casa da Memória aparece anunciada como “centro de interpretação e conhecimento que expõe, interpreta, reflete e comunica testemunhos materiais e imateriais que contribuam para um melhor conhecimento da cultura, território e história de Guimarães e suas pessoas”.
A Casa da Memória deve ser, ela própria, também um Memorial, no sentido em que não seja apenas uma mera representação de acontecimentos do passado, mas também a representação objetiva que não só perpetue a memória de acontecimentos, como torne presente e reatualize as mesmas realidades de que é Memorial. Neste sentido, todo o passado vimaranense, na sua totalidade, em todas as suas facetas setoriais, é Memorial. Mas, uma casa para conhecer Guimarães deve registar conteúdos para além do óbvio.
As duas naves existentes no edifício são dedicadas, uma à “comunidade” e outra ao “território”, sendo que os sete núcleos expositivos “convidam o visitante a percorrer o concelho e a conhecer os espaços ali representados”. Na visita que efetuei ao local, verifiquei a ausência de qualquer alusão, na nave dedicada à comunidade, à Bula Manifestis probatum est, do Papa Alexandre III, emitida a 23 de Maio de 1179, documento que reconheceu, internacionalmente, D. Afonso Henriques como rei e Portugal um reino independente. Trata-se de um documento demasiado importante para ser esquecido, como resulta do seguinte excerto:
“Ao nosso muito amado filho em Jesus Cristo”:
“Sabemos por evidentes sucessos que, como bom filho e príncipe católico… deixaste um nome de grande memória e um exemplo digno de os futuros a imitarem. Confirmamos a Vossa grandeza e Portugal com inteira honra e dignidade de reino e todas as terras que, com auxílio da Graça Celeste, ganhardes aos serracenos e sobre as quais não possam principes cristãos julgar se com direito…”
No entanto, a acerbo já existente é um passo muito importante no caminho da descoberta da memória vimaranense.
Autor: Narciso Machado