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A afetação dos ignorantes/a humildade dos sábios

O homem, pelo uso diário da sua inteligência livre, torna-se autor de grandes revoluções culturais e sociais, como todos nós sabemos. No entanto, as capacidades humanas não são infinitas e a liberdade do homem tem limites na sua aplicação. Quem se julga sabedor em tudo quanto é conhecimento não passa de um insignificante e vaidoso indouto. Os pretensos peritos em várias áreas não passam, pois, de inveterados néscios em todas elas. Simplesmente, arvoram-se em supersábios em todos os domínios. No seu “sapiente” orgulho, refletor de uma vacuidade confrangedora, fazem figura de tontos “dons quixotes” que se apavonam no mar profundo da sua desalumiada mente. Porém, gostam de “meter a foice em seara alheia”, sem para isso possuírem o mínimo de conhecimentos harmonizados. Vem tudo isto a propósito de um programa televisivo em que um comentador residente, assumido ateu, ao pretender analisar uma situação referente a temas religiosos, impelido pelo seu acintoso ímpeto de anticlericalismo, ousou amesquinhar os difusores da doutrina cristã, aduzindo opiniões pessoais sem fundamento adequado. Fiquei a “saber” que os sacerdotes não podem perdoar-se ou desculpar-se uns aos outros! A referida insciência atinge até a terminologia mais simples e básica que, por isso mesmo, é desapropriadamente aplicada por manifesta ignorância. Empregam-se e colocam-se, em rodapé bem saliente, expressões como estas: “O padre vai dar missa”! “O ex-padre de Canelas vai pedir desculpas públicas”! Apesar de vivermos, há mais de cem anos, num regime republicano, ainda proliferam hilariantes “bobos da Corte” a tentar agradar aos superiores, seus “reizinhos” modernos. Continua sempre atual o aforismo que expressa, assertivamente, a ignorância desses “empinados doutores”: “Não vá o sapateiro além do chinelo.” Uma atitude de modesta ignorância em relação a muitas matérias científicas que não se dominam é um ato de desembrutecida sabedoria. É por estes e por outros motivos que as instituições e os povos, num grande número de casos, estão a ser governados e geridos por uma casta de incompetentes. A verdadeira ciência e a genuína investigação, para o ser humano, prendem-se com ele próprio. O estudo da natureza humana é o mais nobre de todos. A constituição psicossomática do homem encerra todo um campo de atributos e capacidades, entre as quais se salienta a lídima humildade, já tão apregoada pelo grande filósofo da Antiguidade, o estelante Sócrates, que respondeu sabiamente aos seus discípulos com a maior das naturalidades: “Só sei que nada sei.” Hoje em dia, entrou na moda o hábito de se criticar (e até elogiar!) as pessoas através da ironia, do cinismo e, pasme-se, do próprio insulto! Que grande nível de cultura revelam essas pessoas! No entanto, ao homem moderno não faltam, neste campo, tantas oportunidades (e condições) para corrigir e aproveitar as atitudes desajustadas, desde que, para isso, o deseje sinceramente. O mundo está a ser infestado por uma praga de “letrados indoutos”. Só se veem incompetentes ambiciosos e pouco honestos, fazedores de corjas de “cunhas” e “compadrios” desaforados, que, muitas vezes, ingressam em profissões sem mérito. Julgam-se conhecedores profundos de todos os ramos da ciência e detentores de toda a verdade. Que belo seria o mundo se todos os homens se soubessem respeitar uns aos outros e tivessem a humildade para reconhecer as suas limitações.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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25 janeiro 2018