Quase toda a gente já sentiu uma dor de cabeça. Aliás, estima-se que mais de metade da população mundial tenha episódios ocasionais. O reflexo é imediato: abrir a gaveta, tomar um comprimido e esperar que passe. Contudo, aquilo que parece uma solução rápida pode, em alguns casos, transformar-se numa armadilha silenciosa: a chamada cefaleia por uso excessivo de medicamentos.
Tal acontece quando quem já sofre de dores de cabeça frequentes recorre demasiadas vezes à toma de medicamentos para aliviar a dor (analgésicos, anti-inflamatórios, cafeína). Com o tempo, em vez de a resolver, os comprimidos passam a alimentar o ciclo da dor, tornando-a quase diária e cada vez mais difícil de controlar.
Os sinais que podem apontar para este problema são dores de cabeça em mais de metade dos dias do mês (muitas vezes logo de manhã), necessidade constante de comprimidos para aguentar o dia e ansiedade antecipatória para tomar um comprimido a fim de evitar o surgimento da dor de cabeça. Progressivamente, estes medicamentos que antes funcionavam vão tendo um efeito cada vez mais curto e somam-se sintomas de cansaço, irritabilidade, dificuldade em concentrar-se e esquecimentos, o que dificulta as tarefas do dia a dia.
Isto não significa que se deva “aguentar a dor”. Tratar uma crise é importante. Contudo, se os comprimidos são precisos em mais de 10 a 15 dias por mês, é altura de falar com o seu médico de família. O primeiro passo é reconhecer a situação e corrigir eventuais fatores de estilo de vida, como por exemplo os horários de sono irregulares, a desidratação ou os períodos de jejum prolongados. Simultaneamente, devem suspender-se ou pelo menos reduzir-se os fármacos em excesso, podendo ser utilizado um tratamento transitório para diminuir os sintomas de privação. Na maioria dos casos, pode ser indicada uma terapêutica preventiva das dores de cabeça - estes são medicamentos diários, não analgésicos, que visam reduzir a intensidade e o número de dias com dor, escolhidos individualmente para cada doente.
Concluindo, o mais importante é não normalizar as dores de cabeça frequentes nem escondê-las atrás de comprimidos. A cefaleia por uso excessivo de medicamentos tem solução e, quanto mais cedo for identificada, mais rápido se quebra o ciclo da dor. Aponte os dias de dor de cabeça numa agenda e procure a ajuda do seu médico pois, quando falamos de dor de cabeça, mais comprimidos nem sempre significam menos dor.