Depois de implementar há alguns meses um projeto que culminou na otimização de um processo de 30 minutos para menos de 1 minuto, dei por mim a questionar as melhores formas de interagir com os agentes e apercebi-me de que grandes mudanças estavam para chegar e da urgência em fazê-lo de forma socialmente responsável.
Continuamos a avançar sem parar e, todos os dias, as nossas competências são colocadas à prova. Temos de estar prontos para nos livrarmos do que, no passado, já foi motivo de orgulho, de medalhas, de inovação e que hoje está totalmente obsoleto.
Temos de nos agilizar na absorção de conhecimento como se fosse a primeira vez, pois só com a “folha em branco” conseguimos, por vezes, compreender verdadeiramente as novas tecnologias e aplicá-las sem vícios ou hábitos caducos. Tal é a nova natureza do trabalho.
Hoje, trabalhamos individualmente nas nossas funções e começamos a tirar partido dos bots de IA, sobretudo para gerar conteúdo. Mas já demos início à fase do “EU aumentado”, com um assistente ou agente pessoal que amplifica a nossa capacidade. Segundo o relatório Microsoft Work Trend Index 2025 – The Year the Frontier Firm Is Born, o advento dos agentes faz surgir algo sem precedentes: a inteligência digital, abundante, escalável e disponível 24/7, ultrapassa pela primeira vez uma das coisas mais escassas da história humana: a inteligência humana.
E os dados são claros:
80% da força de trabalho diz não ter tempo ou energia suficientes para desempenhar o seu trabalho
82% dos líderes afirmam que irão usar agentes nos próximos 12–18 meses para expandir capacidade
Isto tem um impacto profundo na forma como o trabalho se vai desenrolar. O papel humano desloca-se para áreas de maior valor: criatividade, análise e julgamento, tomada de decisão, ética, gestão de conflitos, relacionamento e estratégia.
As competências em IA não são apenas úteis, são hoje das mais críticas para a progressão de carreira.
Surge também a necessidade de liderar equipas híbridas de humanos e agentes, mantendo sempre o “human-in-the-loop”. Esta integração abre oportunidades extraordinárias: devolve tempo às pessoas, melhora a relação com o trabalho e permite lidar com volumes crescentes de informação e complexidade.
As organizações começarão a estruturar equipas por objetivos e não por funções, uma vez que a escassez de competências verticais deixa de ser um obstáculo quando essas competências podem ser adquiridas instantaneamente via agentes.
Passaremos a medir rácios humanos/agentes, com processos que irão desde automação total até zero automação. Em muitos casos, os humanos deixarão de “fazer” para passar a orquestrar e gerir agentes.
As empresas transformar-se-ão em Frontier Firms, integrando humanos, agentes e workflows automatizados em larga escala.
Por isso, a nova natureza do trabalho não é apenas “fazer o mesmo mais rápido”, mas mudar completamente o que significa trabalhar:
O trabalhador deixa de executar para coordenar e decidir.
A inteligência deixa de estar limitada e torna-se escalável.
O trabalho passa de rotina para criação, estratégia e exceções.
A organização deixa de ser hierárquica e torna-se dinâmica e baseada em projetos.
A experiência do colaborador passa de repetição para impacto com agentes.
Embora o estudo apresente uma visão, ela já é hoje visível no terreno.
Conhecer esta tendência e preparar-nos para ela é essencial.
Uma coisa é certa: ignorar este aumento exponencial de produtividade significa comprometer o futuro.
Mas, como tantas vezes na história, o ser humano volta a ser desafiado pelas suas próprias criações para se adaptar, reinventar e tirar o melhor partido deste momento, sem perder a sua essência.
E as nossas organizações estarão prontas para este novo modelo?