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Felizes os pacificadores

1. Na sua recente viagem ao Líbano o Papa Leão XIV teve, em 30 de novembro, em Beirute, um encontro com as autoridades, sociedade civil e corpo diplomático. Abriu o seu discurso, de que transcrevo os parágrafos que se seguem, com palavras de Jesus transmitidas pelo evangelista Mateus (5, 9): «Felizes os pacificadores!» Desenvolveu, de seguida, três caraterísticas do pacificador: 


 

1.1. Saber recomeçar. «A obra da paz, disse, é um contínuo recomeçar. 

O compromisso e o amor pela paz não conhecem o medo diante das aparentes derrotas, nem se deixam abater pelas desilusões, mas sabem olhar para o futuro, acolhendo e abraçando todas as realidades com esperança. 

É preciso tenacidade para construir a paz; é preciso perseverança para cuidar e fazer a vida crescer».


 

1.2. Reconciliação. O pacificador exerce o seu trabalho «sobretudo através do árduo caminho da reconciliação», disse também. 

«Efetivamente, existem feridas pessoais e coletivas que para poderem cicatrizar exigem longos anos, às vezes gerações inteiras. Se não forem tratadas, se não se trabalhar, por exemplo, na cura da memória, na aproximação entre aqueles que sofreram ofensas e injustiças, dificilmente se alcançará a paz. Permaneceremos parados, prisioneiros cada um da sua dor e das suas razões. 

A verdade, em vez disso, só pode ser honrada através do encontro. Cada um de nós vê uma parte da verdade, conhece um dos seus aspectos, mas não pode renunciar ao que só o outro sabe, ao que só o outro vê. 

A verdade e a reconciliação sempre crescem somente se estão juntas: numa família, entre as diferentes comunidades e as várias almas de um país ou entre as nações».

«Ao mesmo tempo, não há reconciliação duradoura sem uma meta comum, sem uma abertura para um futuro em que o bem prevaleça sobre o mal sofrido ou infligido, no passado ou no presente. Por isso, uma cultura da reconciliação não nasce apenas de baixo, da disponibilidade e da coragem de alguns, mas precisa de autoridades e instituições que reconheçam o bem comum como superior ao bem parcial. 

O bem comum é mais do que a soma de muitos interesses: aproxima o mais possível os objetivos de cada um e move-os numa direção em que todos terão mais do que se seguissem em frente sozinhos. 

A paz é, na verdade, muito mais do que um sempre precário equilíbrio entre aqueles que vivem separados sob o mesmo teto. A paz é saber viver juntos, em comunhão, como pessoas reconciliadas. Uma reconciliação que, além de nos fazer conviver, nos ensinará a trabalhar juntos, lado a lado, por um futuro partilhado». 


 

1.3. Coragem de permanecer. Os pacificadores «ousam permanecer, mesmo quando isso implica sacrifício». 

Há momentos em que é mais fácil fugir ou, simplesmente, mais conveniente ir para outro lugar. É preciso muita coragem e visão de futuro para permanecer ou regressar ao próprio país, considerando dignas de amor e dedicação mesmo determinadas condições bastante difíceis. 

Sabemos que a incerteza, a violência, a pobreza e muitas outras ameaças produzem aqui, como em outros lugares do mundo, uma sangria de jovens e famílias que procuram um futuro melhor noutro lugar, mesmo com grande dor por deixarem a sua pátria. 

Temos de reconhecer que muito de positivo chega-vos dos Libaneses espalhados pelo mundo. No entanto, não devemos esquecer que permanecer na pátria e colaborar dia após dia para o desenvolvimento da civilização do amor e da paz continua a ser algo muito apreciável».

 

2. Leão XIV sublinhou «o papel indispensável das mulheres no árduo e paciente esforço de preservar e construir a paz». 

«Não esqueçamos que as mulheres têm uma capacidade específica de promover a paz, porque sabem conservar e desenvolver laços profundos com a vida, com as pessoas e com os lugares. A participação delas na vida social e política, bem como na vida das suas comunidades religiosas, à semelhança da energia que emana dos jovens, representa em todo o mundo um fator de verdadeira renovação».


 

3. Lembrou ainda que «a paz não é apenas o resultado de um esforço humano, por mais necessário que isso seja: a paz é um dom que vem de Deus e que, antes de mais nada, habita no nosso coração».

Silva Araújo

Silva Araújo

11 dezembro 2025