A Igreja celebra, neste último mês do ano, duas festas litúrgicas da maior relevância: O Natal, no dia 25 e a Imaculada Conceição, no dia 8.
Estão relacionadas entre si, porque se o nascimento de Jesus Cristo é, sem dúvida, uma manifestação claríssima da consideração que a Deus merece a humanidade - Jesus Cristo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, encarna, assumindo a nossa natureza -, esta realidade levou o nosso Criador a isentar do pecado original uma criatura, para ser a Mãe do seu Filho, ou seja, Maria Santíssima, que, por essa razão, é verdadeiramente Imaculada Conceição, isto é, um ser humano que nasceu, por mérito e vontade divina, sem a mácula do pecado dos nossos primeiros pais, o pecado original.
No entanto, nascer sem pecado não significa, como a própria história do homem que a Bíblia nos ensina através do comportamento de Adão e Eva, incapacidade para se desviar da vontade divina, que, certamente, apenas quer o bem dos seres criados, nomeadamente daqueles que são livres. A sua concepção imaculada confere-lhe uma posição de maior facilidade e compreensão no conhecimento do que Deus lhe pede e também para ser mais fiel no cumprimento dos desígnios divinos.
A Mãe de Jesus nasceu, assim, com isenção de qualquer tipo de pecado e é no seu seio virginal que se prepara a vinda ao mundo do nosso Redentor, Jesus Cristo. O que os evangelhos nos contam sobre Maria, para além desta realidade, é a de uma pessoa normal, que cumpre as suas obrigações com exemplaridade. Curiosamente, aparece muito pouco na vida pública de Jesus. Mas quando Este sofre o vexame da condenação à morte dum modo ignominioso, entre as poucas pessoas que passam pelo Calvário e aí se mantêm até à morte de Jesus, descobre-se Maria, a quem o seu Filho incumbe de, a partir daquele momento, com a sua libérrima aceitação, ser a mãe sobrenatural de todos os homens.
Nossa Senhora procura sempre e em tudo fazer a vontade divina, mesmo quando a situação não seja para ela perfeitamente clara no modo de a executar. Lembremos, por exemplo, o diálogo tão sintomático entre o Anjo e Maria, quando ele lhe manifesta que Deus quer que ela seja a mãe do Messias Redentor. Nossa Senhora, desde o primeiro momento, apesar da surpresa desta aparição, quer fazer o que Deus lhe pede. Não se opõe nem levanta dificuldades à sua concretização. No entanto, quer saber como deve proceder para que a vontade divina se cumpra plenamente. Eis a razão da sua pergunta: “Como se fará isso, se eu não conheço homem?” (Lc 1, 34).
Maria dá-nos o exemplo nítido de como deve ser o procedimento de cada um de nós quando se enfrenta, na sua consciência, com uma sugestão divina. E mostra-nos também que, para a realizar nas condições corretas, deve esclarecer pormenorizadamente o seu modo de agir. Sem se precipitar, fugindo cobardemente ao que Deus lhe solicita, ou realizando a petição à sua maneira, ou ainda sem se encontrar devidamente elucidado a respeito do seu sentido e das suas consequências.
No próximo dia 8, celebraremos com a maior alegria a sua condição de Imaculada Conceição. Deus preservou-a do pecado original, mas não a privou das dificuldades que todos sentimos para fazer com rigor o que Ele nos solicita. A vida de Maria não é uma sequência de milagres espalhafatosos, mas a demonstração de quem sempre pôs como razão primordial da sua existência fazer o que Deus lhe solicitava.