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Debates para as ‘presidenciais’: não, obrigado!


 



 

Estamos a cerca de cinquenta dias do ato eleitoral que há de designar (em primeira tentativa) o próximo presidente da república portuguesa. Entretanto decorrem os ditos debates entre os candidatos – estavam previstos vinte e oito desses frente-a-frente, de 17 de novembro a 22 de dezembro – emparelhando-os de todas e variadas formas. Fique claro: não tenciono ver nem ouvir nenhum desses momentos, pois pouco a nada trarão de significativo para a minha escolha. Só não entendo porque se dá tanto espaço a coisas nitidamente inúteis...

1. Surgem-me algumas perguntas sobre mais este momento eletivo – o quinto em menos de dois anos – que pode tornar-se quase irrisório atendendo à sucessão de chamamento a votar e – pasme-se – à falta de qualidade dos candidatos, sem desprimor por quem tenho de escolher. Será que os candidatos já estudaram mesmo as funções que vão exercer, se forem eleitos? Terão avaliado a sua competência, tendo em conta as tarefas de mais alto dignitário da Nação? Se nos ativermos aos poderes constitucionais, a figura do PR não passará mais de decorativa do que aquilo que alguns dizem que pretendem executar? Atendendo às figuras concorrentes não serão mais de segunda e de terceira linha do que ‘os melhores dos melhores’? Atendendo à mudança de ciclo - acabou a fase de dois mandatos do anterior - não valeria a pena serem outras figuras a irem a votos? Ou será que neste âmbito de representatividade política também estamos prestes a bater no fundo, tanto na qualidade quanto na significação?

2. O chavão cunhado no mandato de um PR anterior – ‘presidente de todos os portugueses’ – tem tanto de falso quanto de insidioso e quase sem conteúdo. O eleito não foi escolhido por todos, mas pela maioria e, por isso, ganhou. Dever-se-ia mudar, então, o slogan para – ‘presidente para todos os portugueses’ – pois se tal não for, perderá autoridade, significância e magistratura. É neste aspeto de capacidade de influência que o PR tem vindo a perder qualidade e influenciação. A figura quase bizarra do senhor das selfies banalizou quem devia ser contido e usando a palavra para se fazer ouvir, de verdade. Os tiques de comentador – exacerbados sobretudo no segundo mandato – do ainda PR vulgarizou o que dizia e, sobretudo, onde se pronunciava. Percebeu-se que não precisamos de um PR popularucho e nalguns casos a roçar as raias do populismo, para que soubéssemos como iam decorrer os passos de caminho a fazer. Quem vier a seguir terá de saber usar a magistratura da palavra oportuna, serena e incisiva.

3. Sobre o Presidente da República a Constituição da República Portuguesa dedica alguns artigos – do 120.º ao 140.º – sobre estatuto e eleição, competência. Será que a maioria dos eleitores dedicou o mínimo do tempo para se perceber quem tem a responsabilidade de nos representar, de nos cuidar e de nos conduzir? Talvez se fale muito dos ‘poderes’ do Presidente, mas poucos se deem ao cuidado de investirem a confrontarem o que se deseja com aquilo que o PR pode e deve fazer.

4. Pior seria se deixássemos a outros a capacidade de escolherem quem não gostaríamos que servisse de alto dignitário da Nação. Há quem considere que no cardápio dos candidatos desta eleição teremos de escolher o menos mau. A comparar com outros momentos de plebiscito para ocupar o palácio de Belém poderemos estar nesta conjuntura algo desagradável senão mesmo perigosa. Um sinal quase escatológico é vermos que dos oitos atuais candidatos apenas surja uma mulher e no espetro dos momentos anteriores – já foram nove as vezes que votamos para elegermos o PR – o panorama de candidatas não foi melhor. Vejamos números: houve 51 candidatos às eleições presidenciais, sendo somente cinco as mulheres que se apresentaram a sufrágio. Isto não será além de questionável, revelador da falta de maturidade democrática?

 

5. Não vi e recuso-me a assistir ao espetáculo dos debates em curso. De pouco ou nada valem e confundirão mais do que serão capazes de esclarecer. Por mim já escolhi em quem voto…

António Sílvio Couto

António Sílvio Couto

1 dezembro 2025