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Um Novo Ciclo para o Desporto Português

Esta semana fica marcada por um ponto de viragem no desporto português. Pela primeira vez, o país parece dispor de uma visão política articulada, sustentada por recursos e metas concretas para os próximos 12 anos, correspondentes a três ciclos olímpicos.

É importante reconhecer o papel dos protagonistas desta mudança. Temos hoje um Primeiro-Ministro que verdadeiramente gosta de desporto, que reconhece o seu impacto social, económico e na saúde pública e que já demonstrou inclusive literacia motora perante as câmaras de televisão, algo raro se compararmos com muitos dos seus antecessores. Como diz o provérbio, “quem não sabe é como quem não vê”. A escolha de um Secretário de Estado profundamente conhecedor do fenómeno desportivo, com conhecimento, experiência prática e visão estratégica, revela também uma aposta séria em competência e método.

A peça central deste novo ciclo é o Plano Nacional de Desenvolvimento Desportivo (PNDD), que contempla 44 medidas estratégicas distribuídas por seis pilares: Desporto no Contexto Educativo, Desporto na Sociedade, Formação e Alto Rendimento, Instalações Desportivas, Políticas e Governança e Financiamento do Sistema Desportivo. Com um orçamento global a rondar 130 milhões de euros, o plano abrange uma perspetiva de médio e longo prazo. Só os Programas Olímpico, Paralímpico e Surdolímpico receberão 72 milhões de euros.

Este investimento não se limita às medidas de alto rendimento e chega num contexto preocupante onde, segundo o Eurobarómetro 2023, 73% dos portugueses afirmam nunca praticar desporto e, em 2022, mais de 37% da população adulta apresentava excesso de peso. É, portanto, um plano necessário, urgente e promissor. O discurso do Primeiro-Ministro, feito no Centro de Alto Rendimento do Jamor, reforçou a ambição política e simbólica do momento, com o Governo a destinar valores consideráveis à formação de educadores e professores, reconhecendo que a mudança estrutural começa na escola. Haverá também atenção especial ao desporto feminino, com foco na igualdade. Entre as medidas mais estruturantes estão ainda a nova Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto e a revisão do modelo de financiamento nacional.

Embora se possa discutir se o peso de algumas rubricas é excessivo face a outras, ou até a ausência, por agora, de um grande evento desportivo internacional, como as Universíadas, por exemplo e com impacto em varias areas de serviços no Ensino Superior, a política pública está finalmente a fazer o seu trabalho, colocando recursos (financiamento) no discurso (plano), indo além das intenções.

O desporto português entra agora num novo ciclo de oportunidade. O Governo faz a sua parte, com estratégia, meios e ambição, seguindo, de certa forma, o esforço e empenho demonstrado pela maior parte das autarquias. Resta saber se o movimento desportivo, que também receberá apoio específico para várias áreas e ainda para a qualificação dos seus recursos humanos, está pronto para assumir a mudança, e não apenas cumprir calendário.


 

Fernando Parente

Fernando Parente

21 novembro 2025