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Um campeonato a três

A liga portuguesa ainda vai no seu primeiro terço e já se acumulam exemplos de comportamentos pouco edificantes e nada recomendáveis por parte dos dirigentes dos “principais” clubes, o que não augura nada de bom para o que ainda aí vem, embora continue a considerar que os verdadeiros principais clubes são todos os outros que permitem a existência desses “principais”. As constantes queixas dos dirigentes dos três emblemas roçam, por vezes, o obsceno e ultrapassam com frequência os limites do razoável. Curiosamente (ou talvez não), no panorama internacional não se veem críticas tão persistentes e coercivas dirigidas aos árbitros, cuja tarefa já é suficientemente difícil em condições normais, e que se torna ainda mais complexa sob níveis de pressão inaceitáveis.

A existência de apenas uma vaga de acesso direto aos milhões da Europa do futebol coloca uma pressão adicional sobre cada um dos clubes que ambicionam terminar o campeonato no primeiro lugar. Há três galos para um poleiro - Sporting CP, SL Benfica e FC Porto - para desgosto dos adeptos braguistas, que gostariam de ver quatro candidatos ao topo da classificação. Contudo, o excessivo desperdício de pontos numa fase ainda precoce relegou o SC Braga para uma posição desconfortável na tabela, empurrando-o para a luta por objetivos mais modestos.

A centralização quase total das atenções mediáticas nestes três clubes, que se autoproclamam “grandes”, justificaria, ironicamente, a criação de um campeonato à parte. Assim, haveria confronto direto em todos os fins de semana, garantindo material para horas intermináveis de debate nos vários canais televisivos, onde as queixas dos dirigentes se sucederiam ao sabor dos resultados. A existência de três concorrentes permitiria até uma espécie de folga alternada, útil para gerir restantes competições. 

A criação de uma “Liga dos Três” seria provavelmente bem recebida pelos restantes clubes portugueses, que assim poderiam disputar entre si um campeonato certamente mais equilibrado e competitivo, sem os prejuízos previsíveis que enfrentam atualmente contra os três autodenominados grandes. Seria, admitamos, uma liga menor em termos mediáticos, mas muito mais competitiva, permitindo a cada clube lutar pelo resultado em grande parte dos jogos, algo que hoje raramente acontece quando enfrentam os três do costume.

Contudo, a proposta de separar as competições não é viável. Os três clubes precisam dos restantes como figurantes numa liga pouco séria e pouco competitiva, cuja finalidade é alimentar um sistema instalado, mesmo que esse sistema se transforme num monstro descontrolado, revelador de má educação e maus exemplos para quem gosta de ver futebol. Ou melhor, para os adeptos que gostam dos outros clubes.

A postura de dirigentes, treinadores e (alguns) jogadores só é possível porque a impunidade ajuda também a sustentar o sistema. As constantes reclamações destinam-se apenas ao consumo interno, porque no estrangeiro não são permitidas tais veleidades, e os castigos são verdadeiramente exemplares. Veja-se o caso de Paulo Fonseca, que, enquanto treinador, foi suspenso em França durante vários meses por um gesto irrefletido, algo que em Portugal, ao serviço de um dos três, dificilmente passaria de uma ligeira repreensão.


 

António Costa

António Costa

20 novembro 2025