A humanidade sempre teve uma apurada consciência de que, para Deus, a transcendência não litiga com a imanência.
Afinal o mundo, enquanto obra divina, é um insondável «local teologal» e como tal devia ser visto e tratado.
Às vezes, porém, vacilamos nessa perceção.
Já o patriarca Jacob, após uma invulgar experiência teofânica, reconheceu que o Senhor estava no lugar em que se encontrava; só que ele não o sabia (cf. Gén 28, 16).
Sintomaticamente, na Antiga Grécia, os representantes das diversas cidades-estado promoviam encontros em torno de uma divindade.
Tratava-se de uma prática que ficou conhecida como «anfictionia».
Na história do povo eleito, as «teofanias» eram numerosas. Numa das mais memoráveis, Deus adverte Moisés da santidade do lugar onde estava (cf. Êx 3, 5).
Não espanta, por isso, a instalação da Tenda do Encontro, onde o Senhor era escutado e adorado (cf. Êx 33, 7-11).
No Antigo Testamento, o expoente máximo da presencialização de Deus foi o Templo de Jerusalém, dedicado no reinado de Salomão (cf. 1Rs 8).
Por tal motivo, a Festa da sua Dedicação tornou-se uma das mais importantes do calendário judaico (cf. Jo 2, 13-22; 10, 22-26).
O Senhor faz uma promessa a judeus e a não judeus.
A todos garante: «Conduzi-los-ei sobre a Minha Montanha Santa e alegrá-los-ei na Casa da Minha Oração» (Is 56, 7).
O Templo é realidade e funciona como figura: como figura do Templo definitivo que é Jesus Cristo (cf. Jo 2, 21). Efetivamente, Ele é a habitação de Deus no meio de nós (cf. Jo 1, 14).
Sucede que a «habitação» postula um «hábito» adequado. Como muito bem enfatiza D. António Couto, «o hábito é a maneira de viver na habitação».
Os «hábitos» de que temos de nos revestir na «habitação divina» são a misericórdia, a bondade, a humildade, a mansidão e a paciência (cf. Col 3, 12). Longe, portanto, da «indumentária» que costumamos usar.
Sobre todos estes «vestuários» não pode faltar o amor, «que é o vínculo da perfeição» (Col 3, 14).
Salta à vista que o amor «aparece como a coroa do “vestuário cristão”». O amor sobressai como «o “cinto” ou “cíngulo” que, colocado sobre as demais peças do “vestuário”, lhes dá consistência, unidade e harmonia».
Em cada Igreja local, desponta a «ecclesia cathedralis» (igreja catedral), pois nela se encontra a «cadeira» daquele que a todos encaminha para tal unidade e harmonia: o Bispo.
Ela é uma espécie de «protoigreja», a «mãe de todas as igrejas» da Diocese. Pelo que a dedicação «da» Catedral fomenta também uma dedicação «à» Catedral.
Da Catedral jorra a vida nova por todo o «orbe» diocesano. É dessa vida nova que somos chamados a revestir-nos como «pedras vivas» de um «edifício» em permanente construção: a comunhão entre todos «em» Cristo!