Portugal é hoje um dos países mais envelhecidos da Europa. Vivemos mais tempo, é certo, mas nem sempre vivemos melhor. Entre os muitos rostos que o envelhecimento assume, há um que permanece discreto e profundamente doloroso: a solidão. Não se trata apenas de estar só. Trata-se, muitas vezes, de sentir-se esquecido, invisível, sem propósito nem presença no ritmo apressado do mundo.
Os números confirmam o que tantos silenciosamente vivem. Segundo dados recentes, cerca de um quarto dos portugueses com mais de 65 anos vive sozinho. Outros, mesmo partilhando casa ou residindo em lares, sentem a ausência de contacto, de conversa, de gestos simples de atenção. A solidão não se mede apenas em metros quadrados ou minutos de silêncio, mede-se em falta de escuta, de pertença e de afeto.
Com frequência, este isolamento instala-se de forma gradual. A morte de um cônjuge, a distância dos filhos, a perda de mobilidade, a crescente dependência tecnológica. O que começa por ser uma circunstância momentânea transforma-se, aos poucos, num estado de vida. E as consequências são devastadoras. Diversos estudos apontam que a solidão crónica aumenta o risco de depressão, de declínio cognitivo e até de mortalidade precoce. É uma doença social, embora sem diagnóstico nem tratamento universal.
A vida moderna, centrada na produtividade e na aceleração, não tem espaço nem paciência para a lentidão da velhice. As famílias vivem dispersas, o trabalho absorve o tempo e a comunidade perdeu centralidade. Já não conhecemos os nossos vizinhos nem perguntamos quem vive por trás da porta fechada há dias. O resultado é um país onde muitos idosos sobrevivem fisicamente, mas já não vivem emocionalmente.
Mas há sinais de esperança. Multiplicam-se as iniciativas locais que procuram reatar laços e devolver sentido aos dias: programas intergeracionais em escolas, redes de voluntariado de bairro, cafés solidários, plataformas digitais que promovem contacto e segurança. A tecnologia, tantas vezes acusada de afastar, pode também aproximar, se colocada ao serviço da empatia. Mais do que criar programas, é preciso criar presença.
A resposta à solidão não reside apenas em políticas públicas, embora estas sejam fundamentais. É preciso uma mudança cultural, uma ética de comunidade. Habitação partilhada, apoio psicológico acessível, espaços de convívio nos bairros, promoção da literacia digital sénior - tudo isto ajuda. Mas, acima de tudo, é necessário recuperar a noção de que envelhecer é uma etapa da vida, não uma margem.
A solidão na terceira idade é um desafio invisível porque nos obriga a olhar para o que evitamos ver: o espelho do nosso próprio futuro. O modo como tratamos os nossos idosos é o modo como projetamos a sociedade que seremos. Reconhecer, visitar, escutar, valorizar pequenos gestos que podem devolver humanidade onde faltam políticas.
No fim, o que mais envelhece o ser humano não é o tempo, mas o esquecimento. Como bem se poderia dizer: "Não é o tempo que envelhece o corpo, é o esquecimento que envelhece a alma".