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Dirigentes anónimos

Hoje em dia é vulgar ouvir-se a atribuição de rótulos pouco simpáticos aos dirigentes desportivos, em particular, partindo do exemplo daqueles que estão ligados às modalidades, e aos clubes mais mediáticos, onde o futebol, por razões reconhecidas e aceites, assume um papel de certa relevância. Desde acusações mais ou menos infundadas até uma contribuição notável para o anedotário nacional, vale tudo...

Admite-se que a projecção que o cargo de dirigente lhes confere, nomeadamente, quando lhe compete a chefia do executivo, é apetecível para a opinião pública e, por via disso, para a comunicação social.

Por outro lado, há que reconhecer que tal exercício funciona muitas vezes como meio de promoção pessoal e social, e à dimensão do meio onde se insere, desde a freguesia, vila, cidade ou até do país.

Porém, o universo das agremiações desportivas, é tão vasto e diversificado que os tais dirigentes conhecidos representam, quantitativamente, uma parcela mínima e uma amostra pouco representativa do agente desportivo anónimo sem o qual, afirmo, não haveria desporto, particularmente num país e num meio de parca cultura desportiva em que a prática promovida pelos clubes, associações e federações desportivas, se deve ao desempenho anónimo, desinteressado e voluntário de um conjunto de dirigentes "carolas", sem o qual muito dessa prática não seria possível promovê-la. Importa também referir que o trabalho destes dirigentes é pouco valorizado socialmente ainda que a sua actividade seja reconhecida e de incontestável valor social, ao proporcionar a muitos jovens e a outras franjas da população o usufruto de uma salutar prática desportiva.

A dedicação dos dirigentes às suas organizações implica, na maior parte dos casos, um espírito de missão e sacrifício pessoal, financeiro, profissional e familiar que não pode ser medido em horas ou em euros e, muitas vezes, nem em resultados desportivos palpáveis. A dimensão reduzida da maioria dos clubes, ou secções de modalidade, nomeadamente as ditas pobres, não dá aos seus dirigentes a tal notoriedade compensadora, não confere especiais privilégios sociais e não representa o exercício de um estatuto socialmente reconhecido.

E, para cúmulo, o Estado, embora reconhecendo o papel relevante que as mais diversas colectividades representam no sistema desportivo, deveria preocupar-se em criar um estatuto para esses dirigentes e que contivesse um conjunto de alguns benefícios e regalias. É que o estatuto do dirigente anónimo é desenvolvido de uma forma desinteressada, descomprometida e sem protagonismo tendo por base o valioso contributo que presta à sociedade em regime de benemerência e solidariedade.

Contudo, gostaria de referir, que para além destes predicados, o país necessita de novos dirigentes, com nova mentalidade, com nova visão e com nova formação. É imperioso que apareçam dirigentes que saibam planear, que saibam abraçar novas modalidades e novas práticas, que dominem os factores de desenvolvimento desportivo e que tenham a coragem de romper com muitos vícios instalados.

Luís Covas

Luís Covas

14 novembro 2025