No passado dia 8 de novembro, tive a honra de participar na apresentação de um livro “As cores e sabores do Japão”, do autor e poliglota P. Joaquim Domingos Areais, na igreja de S. Lourenço em Ermesinde. Entre os presentes, na mesa, o Bispo D. Manuel Linda e D. José Cordeiro, arcebispo de Braga, que foi o prefaciador e apresentador da edição das Paulinas, Prior Velho, 2025.
Uma noite maravilhosa, de grande nível cultural, em que se fizeram muitas considerações sobre o cristianismo, do país do Sol Nascente e dos samurais, além de cânticos em japonês, por um belo coro de jovens da paróquia.
Abriu a sessão uma professora do Conselho Paroquial, apresentando o autor, que exerceu a missão 5 anos no Japão, saudou os Bispos presentes, assim como se fez a sua história, e o desenho da capa do livro, perante as autoridades e um grande público .
Prefaciou a obra D. Jose Cordeiro, onde sucintamente escreveu: “Há livros que são janelas de esperança” (…) As cores nipónicas vão para além das cores da bandeira, o branco e o vermelho, símbolos da paixão e da pureza”, reflectindo nas cores a beleza da casa comum da criação, tanto nas árvores, nas flores e arte floral (Ikebana), campos de chá verde (matcha), das cerejeiras (Sakura), indumentárias e sabores (Sushi) como nos templos budistas, xintoístas e igrejas católicas”.
De facto, um grande país com a Igreja católica em minoria, mas de elites bem preparadas e cultas, muito credível, embora no passado cheia de perseguições e “sangue como semente de cristãos”, entre os quais se conta o Beato bracarense Miguel Carvalho, presbítero jesuíta e mártir em Omura (25 de Agosto de 1624), bem como S. Francisco Xavier (1506-1552), de Navarra, para não falar de Paul Miki e companheiros, e Adam Schall von Bell(1591-1666), astrónomo jesuíta alemão, de Lugtenberg, Bona, hoje celebrado como santo mártir, que no séc XVI representou o estado português e fez a adaptação do calendário gregoriano ao japonês.
País de precisão, rigor, ecológico, de uma limpeza invejável, reflete o verdadeiro espírito japonês, cujo sentido está na forma, com que se faz o que se faz, em arte, beleza, na estética e na recriação. O japonês assimila facilmente o que vê, mas recria sempre com um toque individual de beleza artística, criatividade e originalidade para melhor. A natureza é um reflexo e espelho sublime do divino na estética, ecologia, pelo que deve ser límpida e nunca conspurcada: nada está por acaso, mas forma harmonia, nas suas cores, perfumes e sensibilidade, culminando em ternura e amor.
Muito expôs D. Manuel Linda sobre o cristianismo, vicissitudes, concepções, papel social, respeito, etc, complementando o autor, ao falar de muitas perspectivas do livro sobre as 4 estações, cromática, cultura, gastronomia, educação, desporto, poética das cores, caligrafia, música e silêncio eloquente, que traduz um certo individualismo japonês melistofélico, pouco comunicativo, não muito aberto ao comunitário, sem ser elitista. Será consequência de um certo individualismo, frieza, de espírito alemão no Extremo Oriente? Talvez um sintoma mais típico do português, que fala muito, mas superficial…
Vale a pena ler a obra e refletir como portugueses para apreciar a nobreza do que fomos como missionários no Extremo Oriente, na China, Índia, ou em Macau, e sentir o que fomos, e hoje já não somos, como povo de sonhadores, poetas (e patetas), que muito devem aprender dos melhores…
Parabéns ao autor, atores e organizadores, que aliás projetam ainda uma Viagem ao Japão para turistas interessados e motivados na leitura da excelente e caleidoscópica obra multicultural.