Por vezes a memória leva-nos inopinadamente a um ponto do passado “arrumado no seu arquivo vivo. Já se passaram para aí uns bons trinta anos ou mais; mas parece que foi há meia dúzia de dias ou semanas.
Estava-se talvez no auge da invasão, por parte da Indonésia, do território de Timor Leste, quiçá aquando do da brutal chacina, do massacre levado a cabo pelas forças armadas do invasor no cemitério de Santa Cruz em Díli. Foi “um tiroteio sobre manifestantes pró-independência, (a 12 de novembro de 1991), que causou mais de 271 mortos e 278 feridos. Ocorreu durante a ocupação de Timor-Leste pela Indonésia, e formou parte da estratégia de genocídio em Timor-Leste. [Números m ais exactos com ajuda da net].
Certo dia, juntou-se uma meia-dúzia de professores, não sei se numa reunião de grupo, e às tantas veio à baila o assunto “Timor e a invasão em causa”. Sentia-se e lamentava-se a tragédia do povo timorense.
A dada altura, uma voz surgiu a dizer que também em Angola existia uma outra tragédia, que era a guerra civil, fratricida entre movimentos que queriam impor, pela luta armada, o que não conseguiram por palavras. Mas outra voz se ergueu dizendo que esta questão era diferente, era um problema interno deles.
A situação de guerra sempre foi e continuará a ser motivo de preocupação e de tristeza para quem tem dela conhecimento; de dor para quemm a sofre na pele. No caso de Angola, os dois principais partidos, i. e. movimentos pró-independência eram apoiados por potências mundiais que viram ali uma oportunidade de expansão. O M. P. L. A. (Movimento Popular de Libertação de Angola) por parte da Rússia e de Cuba; O/A U. N. I. T. A. (União para a Independência Total de Angola) por parte dos Estados Unidos.
Ora…
Quem esteve em Angola profissionalmente uma vida de décadas ou militarmente pelo menos uma comissão de serviço (de dois anos), nunca mais esquecerá essa parte da sua vida.
II – A perda dos territórios indianos sob domínio de Portugal
Nos nossos dias, que cada vez mais correm num movimento uniformemente acelerado, é fácil, é normal que o passado esteja cada vez mais diluído. Na facha etária dos quarenta anos, há muito boa gente que sabe, por exemplo, do poder político nas mãos do ditador (António de Oliveira) Salazar, da existência da P. I. D. E., da guerra colonial, que durou treze anos, etc. e tal…
Talvez sejam muito menos conhecidos ou ignorados os acontecimentos sobre a perda dos territórios indianos, ocorrida em Dezembro de 1961, que Portugal tinha como seus, como uma parcela do “país pluricontinental e plurirracial que se estendia do Minho a Timor-Leste, vistos pela Índia como uma "libertação" e por Portugal como uma "agressão".
O primeiro passo para resolver esta questão foi uma proposta para que a mudança de soberania fosse pacífica, através de negociações. Salazar rejeitou liminarmente esta proposta. Para ele, a única via era o confronto armado. A Índia tinha um poderio militar (cerca de 50.000 soldados, equipamento moderno, apoio aéreo e naval), enquanto Portugal tinha um dispositivo de 3.500 soldados, que estavam “mal equipados e mal preparados para um confronto.” A operação militar indiana foi um sucesso rápido, com a rendição incondicional das forças portuguesas assinada a 19 de dezembro de 1961.
Pouco mais restou ao general Vassalo e Silva, governador-geral do Estado Português da India e Conandante-Chefe das forças armadas, do que assinar a rendição incondicional das forças portuguesas. Por considerar só haver “soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, Salazar ordenara a Vassalo e Silva que a tropa portuguesa lutasse até à morte. Desobedecendo a essas ordens, Vassalo e Silva poupava a vida de muitos dos seus militares.
Os soldados portugueses foram aprisionados pela União Indiana e, como retaliação, abandonados à sua sorte por Salazar em campos de concentração sem as mínimas condições durante quatro meses.
Vassalo e Silva já em Lisboa foi julgado em tribuna de guerra; daí resultou a sua expulsão das Forças Armadas. Somente foi readmitido com a Revolução do 25 de Abril de 1974.
A rendição de Vassalo e Silva valeu-lhe o epiteto de “Vacila e Salva-se”.