Nunca como hoje é preciso alertar as pessoas para a necessidade de adotarem hábitos de poupança. De facto, são tantos os incentivos que recebemos para consumir, que muitos de nós cedem e canalizam todos os rendimentos que possuem, não apenas para satisfazer necessidades reais e efetivas, como a alimentação, água, luz ou habitação, mas também os mais variados desejos, caprichos e, por vezes mesmo adições perniciosas como o tabaco, álcool, droga ou jogo.
Seja qual for a nossa situação económica, a poupança deve constituir um imperativo pessoal tão importante como ter hábitos de higiene, de alimentação saudável ou mesmo de praticar exercício físico.
O Dia Mundial da Poupança (31 de outubro) começou a ser celebrado a partir de 1924 por ocasião da realização do Primeiro Congresso Internacional da Economia em Milão. Constitui uma ocasião para refletir na importância de poupar, de adotar alguns hábitos financeiros básicos e, de forma simples, conseguirmos preparar o nosso futuro financeiro, fazer face a imprevistos e atingir alguns objetivos de longo prazo.
A sociedade de consumo em que nos inserimos induz-nos ao consumo desenfreado, a adquirir produtos e serviços sem fim, cada um muitas vezes mais inútil que o anterior, mas que implicam custos e, por vezes implicam o recurso a financiamento, gerando obrigações que se prolongam no tempo e que ultrapassam a chamada taxa de esforço. Este indicador (taxa de esforço) representa a parte do nosso rendimento que está dedicada à satisfação dos compromissos financeiros que assumimos, como seja, por exemplo, o crédito à habitação ou o crédito pessoal, os cartões de crédito, etc.. Para calcularmos a taxa de esforço dividimos o valor dos encargos financeiros mensais pelo rendimento mensal e multiplica-se o resultado por 100. Por exemplo, se os rendimentos mensais do agregado familiar forem de 2000€ e o somatório das prestações de crédito perfizer os 800€, a taxa de esforço é de 40%, que já está um pouco acima do valor que os especialistas aconselham para não assumir mais encargos, sob pena de colocar em risco a estabilidade financeira do agregado familiar, podendo mesmo atingir o sobre-endividamento. Aliás, o aconselhável é fazer com que a taxa de esforço se situe abaixo dos 35% do rendimento disponível.
A questão da literacia financeira está mesmo na ordem do dia. Temos todos de fazer um grande esforço para obter as noções mínimas sobre as implicações do recurso ao crédito; a poupança; as diferenças entre os produtos financeiros de poupança (depósitos a prazo, obrigações, certificados de aforro, etc.), as criptomoedas e, muitas vezes mesmo, para além disso. Penso que temos todos a noção de que o jogo em geral e, em particular, o jogo on-line, está a crescer muito. Se é verdade que nas modalidades de jogos mais clássicas como o totoloto ou as raspadinhas, por exemplo, são em muitos casos os idosos que mais investem (e perdem), já no jogo on-line são sobretudo os mais jovens que arriscam e, também, por via de regra, perdem.
Sendo assim, não podemos deixar de lembrar aqui o papel importantíssimo de um serviço público que muitos desconhecem: a RACE (Rede de Apoio ao Cliente Bancário) com um papel fundamental no esclarecimento e informação aos consumidores na área financeira, na avaliação da capacidade de endividamento, no apoio aos consumidores em caso de risco ou de incumprimento efetivo dos contratos de crédito com as instituições financeiras. Na nossa região este serviço tem vindo a ser assegurado pelo CIAB – Tribunal de Consumo (acessível em www.ciab.pt).