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Um compositor criativo e original

 


 


 

Já fez 150 anos, no passado dia 3 de junho, que faleceu o compositor francês do período romântico Georges Bizet, cujo aniversário de nascimento ocorre no próximo sábado, dia 25 de outubro. Também já fez 150 anos, a 3 de março, que foi estreada, na Opéra Comique, em Paris, a ópera Carmen, sua obra mais famosa. 

Filho de Adolphe Armand Bizet, professor de canto, e de Aimée Marie Louise Léopoldine Joséphine Delsarte, pianista de talento, que procedia de uma família de músicos notáveis, Georges Bizet nasceu em Paris, a 25 de outubro de 1838. O seu nome de nascimento é Alexandre César Léopold Bizet, mas foi o de batismo (George) que se impôs ao longo da vida e para além da morte.

Com apenas 9 anos, entrou no Conservatório de Paris, onde estudou composição e órgão, tendo como professores Charles Gounod, de quem chegou a ser grande amigo, e Jacques Halévy, figura importante da música francesa que muito influenciou a vida e a obra de George Bizet1. Além disso, também estudou piano e tornou-se um dos maiores pianistas da época, a ponto de as suas brilhantes interpretações terem impressionado pianistas como Hector Berlioz e Franz Lizt. 

Em 1857, ganhou o Prémio de Roma, com a cantata Clovis et Clotilde. Em virtude dessa distinção, muito privilegiada na época, passou a estudar em Itália, tendo como professores Robert Schumann, Carl Maria von Weber e Felix Mendelssohn. Foi em Roma que compôs várias das suas obras, incluindo a sua primeira ópera, Don Procopio

A música de Bizet combina clareza e riqueza melódicas (as suas melodias são memoráveis e muito expressivas, frequentemente inspiradas em temas populares ou exóticos); vivacidade rítmica; orquestração colorida, transparente e eficaz, revelando um domínio técnico impressionante. Destaca-se ainda pela capacidade de captar as nuances emocionais dos personagens e por um forte sentido dramático. Embora clássicas, as suas harmonias apresentam, com frequência, nuances ousadas e refinadas que lhe conferem uma modernidade inesperada.

Bizet alia a elegância típica da tradição francesa com uma energia dramática e realista que antecipou o verismo italiano, de Puccini e Mascagni. De facto, Bizet é um dos criadores do verismo operático, ao trazer personagens realistas e paixões humanas intensas para o palco.

 

A marca do que é local e as influências exóticas depreendem-se de obras como Les pêcheurs de perles (Os pescadores de pérolas, 1863), ambientada no Ceilão (atual Sri Lanka), e de L’Arlésienne (1872), música incidental para a peça homónima de Alphonse Daudet, rica em temas provençais.

Tão criativo e original quanto inseguro, Georges Bizet escreveu 16 óperas, 26 obras sinfónicas, 16 obras para piano solo, entre outras, e deixou muitos esboços e rascunhos de obras que não chegou a completar, mesmo tendo destruído muitos outros.

É mundialmente conhecido pela sua ópera Carmen, que, tendo causado controvérsia na estreia, tornou-se notável pela utilização de temas espanhóis e pelo tratamento inovador das convenções operísticas da época. O libreto baseia-se numa novela de Prosper Mérimée e apresenta uma mulher independente e sensual (Carmen) que desafia as convenções morais. 

O público e a crítica consideraram o tema “imoral”, mas, pouco depois da sua morte prematura, a ópera tornou-se um símbolo do realismo musical e da expressão dramática moderna. A partitura inclui árias icónicas como a “Habanera” e a “Toreador Song” (Votre toast, je peux vous le rendre)

Com esta obra, Bizet quebrou as convenções da ópera francesa, trazendo para o palco personagens do povo, com paixões e defeitos humanos reais. A música acompanha de perto o drama psicológico, sem ceder ao sentimentalismo. A fusão entre melodia, ritmo e caraterização é notável, pois cada motivo musical reflete a personalidade dos personagens e o ambiente espanhol.

Bizet morreu a 3 de junho de 1875 (tinha 36 anos), em Bougival, três meses após a estreia de Carmen. A sua morte precoce impediu-o de ver o reconhecimento que a obra viria a alcançar, pois, ironicamente, veio a tornar-se uma das óperas mais populares e mais representadas de todo o repertório operístico.

Bizet renovou a ópera francesa, foi um percursor do realismo musical e do uso dramático do motivo condutor. A sua música continua a ser admirada pela combinação rara de emoção direta e refinamento técnico. Além disso, influenciou compositores posteriores como Massenet, Claude Debussy e Maurice Ravel. 

1 Cfr. Enciclopédia dos Grandes Compositores, vol 3, ed. Salvat, Pamplona-Rio de Janeiro, 1986, p. 137.

Pe. João Alberto Sousa Correia

Pe. João Alberto Sousa Correia

20 outubro 2025