Já passaram 50 anos em que o regime democrático impera em Portugal, iniciado com a Revolução do 25 de Abril e consolidado com o 25 de Novembro de 1975, em que a democracia começou a funcionar em pleno com a vitória dos militares moderados, uma crise que o General Costa Gomes, então Presidente da República, denominou “dramática aventura” pois poderia gerar uma guerra civil entre os moderados e os da extrema-esquerda. Ele próprio, do Palácio de Belém foi moderando todas as barricadas, golpes e contragolpes, para evitar que as coisas se agudizassem.
Foram realmente tempos difíceis em que a democracia poderia estar em causa, mas graças a vários generais, entre eles Ramalho Eanes, Vasco Lourenço, Marques Júnior, Pires Veloso, Jaime Neves… os extremistas foram vencidos. Houve logo, no dia 25 de abril de 1975 as primeiras eleições livres, chamadas também eleições constituintes, com a duração, apenas, de um ano, continuando a haver um governo provisório militar-civil. Estas eleições tiveram como objetivo escrever a Constituição que iria substituir a do Estado Novo de 1933, elegendo 250 deputados que formaram a Assembleia Constituinte, com a maior votação de sempre (91,66%), vencendo Mário Soares (PS) com 37,87, ficando em segundo lugar o Sá Carneiro (PPD) com 26,39%, entrando em funções no do dia 2 de junho de 1975 e dissolvida em 2 de abril de 1976, após a aprovação da nova Constituição.
Posteriormente, houve as eleições legislativas que marcaram, verdadeiramente, a institucionalização do regime democrático, dando aso a que se abrisse o caminho para a eleição de novos órgãos nacionais. O PS formou o 1º Governo Constitucional, tendo como 1º Ministro Mário Soares, sendo aceite, em julho, pelo Presidente da República, o General Ramalho Eanes, eleito no escrutínio de 27 de junho de 1976. Logo a seguir, em dezembro, tivemos as primeiras eleições autárquicas.
E foi assim que chegamos a esta maturidade democrática, inicialmente, com alguns atropelos, mas hoje, felizmente, tudo se passa com a devida normalidade.
As recentes eleições autárquicas foram o exemplo do respeito pelos resultados eleitorais. Na campanha cada partido e cada candidato discutiram as suas ideias, a sua forma de ver as coisas livremente. A democracia funcionou em pleno. É evidente que nas campanhas eleitorais há debates de ideias um pouco exacerbados, mas faz parte na dicotomia de opiniões e programas.
É salutar cada um expor os seus pontos de vista sem ser necessário denegrir o adversário, sempre tendo em atenção a dignidade da pessoa humana e, com respeito mútuo, respeitarem as divergências que existem nos diversos programas. Todos têm direito a tentar serem eleitos, mas sempre tendo a sua consciência acima de qualquer poder adquirido com zaragatas, mentiras e, por vezes, não olhando a meios para atingir os fins.
Em Vila Verde, por exemplo, no concelho onde resido, notei um certo respeito uns pelos outros, cada um falando de si. É evidente que a oposição, para conseguir atingir o poder, tenta sempre “saltar um pouco a corda” distorcendo, em certa medida, a realidade, as obras feitas, a coragem que cada autarca se esforça por melhorar a sua terra, nunca estando satisfeito com o que vai sendo melhorado e inovado para tentar chegar a uma meta que é sempre inatingível “a perfeição” em tudo o que faz parte da vida humana, mas fazendo o que é possível. Na altura das eleições, o verdadeiro poder está na democracia e o povo sabe julgar e, geralmente, na sua grande maioria, sabe ser justo e grato por aqueles que governam a sua terra e decidem dar ou, até, reforçar a votação naqueles em quem acreditam e sabem que vão dar continuidade a projetos já em execução e outros que, ao longo do mandato, aparecerão.